Ler YA como jovem adulta é uma experiência interessante. Se por um lado, reconheço as vantagens que existem em ler livros deste género da vida adulta, por outro lado sinto-me um bocado estranha ao ler histórias que se passam no Secundário, uma etapa que eu já passei.
Nos últimos tempos, tenho lido muitos romances adultos que se passam na Universidade e comecei a interrogar-me acerca do motivo pelo qual nenhum autor YA escreve sobre esta fase entre a adolescência e a vida adulta. Porque é que ninguém fala da fase estranha que é a nossa experiência universitária.?Porque não, não é só a adolescência que é uma fase estranha! Quando eu era criança, eu olhava para os jovens de 20 anos e pensava "Uau, eles já são tão adultos!". Mas agora que já atingi esta idade, eu não me sinto nada adulta. Eu sei, no fundo nunca nos vamos sentir adultos, mas sobretudo nesta idade. Já me sinto (muito) melhor na minha pele, sinto-me mais confiante, já vivi muitas experiências incríveis, tenho amigos dos quais me orgulho bastante e estou a começar agora a ver o mundo de outra forma. Mas ainda há muita coisa que não sei. Não sei quase nada de política, não percebo grande coisa de impostos nem de IRS, ainda estou a tentar definir aquilo que quero ser e a minha entrada para o mundo de trabalho... E tudo isto precisa de ser falado!
A adolescência consegue ser terrivelmente difícil. Não estou aqui a negar isso. Os adolescentes precisam de sentir que não estão sozinhos nesta fase de crescimento e de grandes mudanças nas suas vidas. A ficção YA é muito importante para eles e desempenha aqui um grande papel. No entanto, ninguém passa de adolescente para um adulto formado. Nem de perto! Assim, nós, jovens adultos, precisamos de livros que decorram na Universidade.
Ok, eu sei que, tecnicamente, este tipo de literatura destina-se para jovens entre os 12 e os 18 anos, e que as personagens universitárias pertencem aos livros de adultos. Porém, a realidade é que a ficção adulta não explora as personagens universitárias da forma mais ideal. Estes aparecem, frequentemente, em livros cujo foco principal é o romance e/ou sexo. Não é que seja necessariamente mau, porque isso também faz parte desta idade mas, nós, leitores, também gostaríamos de ler livros que explorassem outras coisas que também fazem parte desta fase.
"Fangirl" foi o único livro YA que li cujas personagens eram universitárias. É dos poucas histórias que retratam a grande mudança que é a transição do Secundário para a Universidade e todas as consequências que resultam desta, como perder o contacto com alguns amigos, ficar longe da família, ser introvertido e ter que estar num meio grande... É um dos meus livros favoritos por esta razão, por falar de uma fase que estou a viver.
Eu gostava de ver mais livros assim, que explorassem os altos e baixos da vida dos jovens nos seus 20 e tal anos. Quando eu estava a viver fases difíceis como adolescente, eu encontrava sempre alguma personagem na ficção a passar por algo semelhante, com que me podia identificar e com quem podia aprender. Eu ainda encontro isso nos livros YA. Algumas mensagens que estes passam ainda se aplicam à minha vida, quer seja por serem universais ou por serem mensagens que eu não entendia quando era mais nova e só com uma idade mais avançada poderia entender. Porém, existem experiências específicas que só vivemos na universidade, e eu gostava que a ficção retratasse mais essas experiências, dando-nos mensagens próprias para as mesmas.
Não acredito que precisamos, necessariamente, de criar um novo género literário para os univeristários. Muitos educadores defendem que os adolescentes não se irão identificar com as personagens se forem muito mais velhas do que estas. Eu não acho que isso seja necessariamente verdade. Sim, não devemos meter personagens demasiado "velhas" na ficção YA, mas também acho que seria interessante incluir personagens universitárias, para os jovens poderem ver a próxima etapa que os espera e para nós, universitários, nos podermos identificar mais com as histórias.
Gostava de, no futuro, ver livros que não resumissem a vida de um jovem adulto a romance ou como uma fase onde quase nada de suficientemente interessante para ser representado na ficção acontece. Quero ver mais livros que mostrem que não se entra de repente na vida adulta, que é algo que acontece por fases. A vida não acaba depois do Secundário, escritores, ok?
Concordo imenso contigo! Eu li o Fangirl no 1º/2º ano de faculdade e identifiquei-me imenso. Embora goste muito do género YA, cada vez tenho lido menos porque já não me sinto nessa fase, e se calhar gostaria de ler mais livros que abordassem esta transição, bem como a transição faculdade-mundo do trabalho :)
ResponderEliminarSim, livros que abordem a entrada no mundo de trabalho também são necessários! Estou prestes a entrar nessa fase, e gostava de ter ficção que me acompanhasse nessa luta :).
EliminarHá vários tipos de YA e acho que, cada vez mais, limitá-los entre os 12 e os 18 parece demasiado limitativo porque muitos estendem-se até públicos mais velhos (e ainda bem!), principalmente porque um bom livro não devia estar relacionado com o público-alvo a que supostamente é destinado (YA) mas sim com aquilo de que fala. Além de haver uma linha muito ténue entre young adult e new adult, quando as idades andam ali entre os 18 e os vinte e tal. Se procurares new adult encontras mais livros sobre universitários, de certeza. Depois... tens de pesquisar melhor porque há muitos livros destinados a YA que retratam vidas universitárias. E acho que vai haver cada vez mais porque muitos autores optam por começar por escrever sobre personagens mais novas e vão "envelhecendo" as personagens sobre as quais escrevem à medida que vão escrevendo outros livros. Também há outro factor que torna o secundário tão "inspirador" para escrever: é uma altura onde está tudo à flor da pele, onde ainda se está numa fase de "formar identidade" e em que é importante falar de certas coisas, sentirem-se "compreendidos", etc.
ResponderEliminarAssim de repente, além do "Fangirl", que mencionas, tens o livro da Pam Gonçalves ("Boa Noite"), que se passa na universidade e é muito bom; o 3.º livro da saga de que te falei no Instagram passa-se em parte na universidade (mas não gostei muito desse); há ainda o "We are Okay", da Nina Lacour (está na minha lista de leitura). Aaaah, e diz-se por aí que o meu terceiro livro, quando sair, sabe-se lá quando, também vai ser passado na universidade AHAHAHAHAHAH
A Sofia World
Eu acho que, hoje em dia, as faixas etárias acabam por ser apenas orientações para impedir que sejam lidos em idades demasiado precoces. Os YA são lidos por muitos adultos, até os livros infantis (sobretudo aqueles te nos dão nostalgia). Já ouvi falar desse género, mas ainda não o explorei muito, vou ver se encontro esses. Lá isso é verdade, há um certo encanto nesta fase, em que tudo é vivido com muito intensidade. A partir da universidade, tudo é mais ponderado e mais calmo.
EliminarQuero mesmo ler o livro da Pam, só tenho ouvido maravilhas dele. Eu estou muito ansiosa, ouvi dizer que era agora no verão que iria sair mais um livro teu :). Agora que me disseste que se vai passar na uni, ainda fiquei mais!
Concordo plenamente contigo! É uma fase tão estranha e é tão pouco falada....
ResponderEliminarÉ verdade, acho que temos sempre uma certa dificuldade em encarar-nos como adultos. Eu tenho 26 e ainda me questiono se o sou a 100%, porque há vários assuntos que não domino e que, supostamente, estão muito associados a esta fase da nossa vida.
ResponderEliminarConfesso que não sou a maior consumidora de literatura YA, no entanto, sinto que levantaste uma questão bastante pertinente, porque, ao não explorar esse universo universitário, parece que existe uma quebra; parece que existe uma transição direta entre secundário e o mundo adulto. A universidade até podia ser não o contexto das personagens principais, mas, pelo menos, seria vantajoso arranjar forma de a introduzir na narrativa. Acho que também iria ajudar a perceber que todas as etapas têm as suas dificuldades, limitações, angustias e momentos mágicos.
No fundo, seria aliar o melhor de dois mundos, porque a faixa etária à qual o YA se destina, maioritariamente, continuaria a identificar-se, tendo acesso a outras realidades, mas os mais velhos que gostam deste género de leitura também conseguiriam encontrar pontes entre a ficção e a sua vida
Beijinhos*
Acho que, no fundo, nunca nos sentimos adultos.
EliminarEu, pelo menos, falo por mim, eu não me teria importado nada de, aos 15 anos, ler sobre a universidade, ajudaria-me a saber o que esperar.
Beijinhos
Bom dia. Gostei da descrição da tua publicação.Um fico condutor é necessário.
ResponderEliminarBjos
Votos de uma óptima sexta-feira
Obrigada :).
EliminarLi muitos livros YA e este era dos meus géneros literários favoritos, mas, perto do final da faculdade, comecei a deixar este género de lado precisamente por ser "demasiado adolescente". As histórias passavam-se sempre com adolescentes e sempre no secundário, e eu deixei de me identificar com isso. Para além de que, ao começar a ler outros géneros, tornei-me mais crítica em relação à linguagem e à escrita em geral. A escrita dos YA tornou-se muito "adolescente" para meu gosto xD E também foi por isso que abandonei este género.
ResponderEliminarJá li um ou outro livro em que as personagens eram mais velhas (já estavam nos vintes) e estavam na universidade, no entanto esses livros não abordavam propriamente essa fase, ou seja, o enredo da história não incluía a universidade em si. Talvez existam livros acerca disso, mas não te sei dizer porque, na altura de escolher livros, vou sempre para aqueles que mais se afastam do mundo real :P
Eu, apesar de tudo, continuo a gostar. Acho que é uma fase que tem o seu encanto :). Não passaria por ela novamente, por causa de todas as inseguranças e incertezas, mas guardo boas recordações :).
EliminarEu depende do mood, às vezes gosto de ler sobre a vida real, outras vezes quero ler algo que se distancie mais.
Nunca li nada assim mas de facto (e eu sendo a melhor testumenunha) a adolescência é bem difícil!
ResponderEliminarAgora que falas nisso apercebi-me que o único livro que li, onde as personagens se encontravam na universidade, foi exatamente o que mencionaste. Os outros livros que li ou andavam no Secundário ou já trabalhavam, realmente vão de um extremo ao outro sem escrever sobre o processo.
ResponderEliminarSe ainda houvessem poucos escritores.. e aposto que quando eram jovens também se perguntavam pelo mesmo que tu.
Concordo plenamente!!! Acho que era mesmo bom que existissem mais livros de fantasia e até de ficção em que as personagens principais têm 20/22 anos, e livros sobre a realidade que mencionassem universitários...
ResponderEliminarApesar de adorar ler YA até com personagens de 16 anos, acho que me iria identificar e gostar ainda mais do livro se tivessem a minha idade. E let's be honest, eu acho que a maior parte das pessoas que lê YA tem a nossa idade...
Se calhar é verdade xD, só aos 20 anos é que eu comecei a ler mais livros deste género.
EliminarTambém leio muitos YA e, realmente, nem nunca tinha pensado nisso! Alguns até mencionam a universidade, mas nada de muito explorado!
ResponderEliminarBeijinhos,
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r: Sim, nessas alturas também aproveito para dormir até um bocadinho mais tarde, mas, de resto, é como tu dizes, começo o dia cedinho. E que bem que sabe :)
ResponderEliminarBeijinhos*
Quero imenso ler "Fangirl". Recentemente li um livro sobre fantasia que envolvia universitários mas depois de refletir com este teu post,cheguei a conclusão que foi o único livro que li com personagens que se encontravam nesta fase da sua vida.
ResponderEliminarhttp://arrblogs.blogspot.com/
Qual é o livro? :).
Eliminar"O Espelho e a Bola de Cristal- Os escolhidos".É um livro que ao inicio parece real, mas é uma história de fantasia. Diferente de tudo o que já li mas foi um livro do qual gostei mesmo muito (: Fiz post no blog sobre ele recentemente (http://arrblogs.blogspot.com/2018/07/books-o-espelho-e-bola-de-cristal-os.html) no caso de ficares curiosa(:
Eliminarbeijinho
Muito obrigada pela sugestão, vou ler :).
EliminarNão conhecia estes livros sinceramente. Mas concordo contigo, devia haver mais material a explorar essa fase da nossa vida. É uma fase em que ainda não nos sentimos adultos mas, para a sociedade já o somos. É complicado!
ResponderEliminarbeijinho
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