"". Life of Cherry: Um documentário que me fez repensar todo o meu percurso como feminista !-- Javascript Resumo Automático de Postagens-->

22.9.20

Um documentário que me fez repensar todo o meu percurso como feminista



Sempre que posso, procuro ver filmes e documentários "fora da caixa", que me façam verdadeiramente pensar. Já há algum tempo que não vejo um que me inquiete realmente, por isso quando recebi esta sugestão, fiquei imediatamente intrigada. 

O nome do documentário, "The Red Pill", é uma alusão a um termo muito usado no Movimento dos Direitos Masculinos (numa tradução livre, o original é "Men´s Rights Movement" ou MRA), que referencia Matrix, onde uma personagem é dada a escolher entre uma pílula vermelha, que lhe revelará a verdade por detrás de tudo aquilo que sempre conheceu, ou uma pílula azul, que o manterá sobre uma névoa de ignorância e (supostamente) mais feliz. Este documentário é produzido por Cassie Jay, uma atriz que se tornou uma jornalista feminista após anos de abusos em Hollywood. Tendo ela uma fome insaciável por temas controversos e tendo já coberto todo o tipo de temas polémicos relativos a mulheres, a jornalista decidiu desafiar as suas próprias crenças e explorar o mundo desconhecido dos direitos dos homens. 

No seu percurso de um ano neste novo mundo, Cassie faz vídeos caseiros diariamente, a documentar a forma como a suas convicções  mais fortes estavam a ser abaladas. Tal como a Cassie, também eu, enquanto assisti, me senti confrontada pelas minhas próprias visões feministas, tanto que, em alguns momentos, tive que clicar no botão de pausa para ir arejar as ideias. Dei por mim a ter empatia por muitas das questões que o autoentitulado movimento de homens abordou: a violência doméstica/no namoro contra homens, violação masculina, fraude na paternidade, guerras de custódia,... Habituei-me a pensar que, como uma mulher, eu nasci sem privilégios, que os homens tinham todos os privilégios do mundo e, turns out, há aspetos em que nós é que beneficiamos de mais vantagens do que eles. 

Apesar da natureza provocadora desta produção, achei impressionante o facto de, mesmo assim, esta conseguir distanciar-se da postura "masculinista", mantendo uma posição de neutralidade para que o espectador possa, por si mesmo, decidir qual a sua opinião - dando, ao mesmo tempo, voz às mulheres para estabelecer o paralelo entre duas perspetivas. Sinto que isto me permitiu criar mais simpatia pelos problemas que foram abordados pelos homens, em vez de me sentir a sofrer algum tipo de "lavagem cerebral" - até porque, em certos momentos do documentário, e sem querer desvalorizar muitos dos seus argumentos acertados,  senti que este movimento era tão tóxico como o feminismo radical. "Red Pill", ao mostrar os dois lados diametralmente opostos, faz-nos questionar porque é que existe tanto ódio de mulheres contra os homens e vice-versa, e qual ou se alguns deles é a verdadeira resposta contra a discriminação com base no género. 

O documentário sofreu e continua a sofrer inúmeras resistências por parte de distribuidoras (em alguns países até foi banido dos cinemas), ataques em exibições, resistências por parte dos serviços de streaming, famosos sites de críticas como o Rotten Tomatoes recusaram-se a fazer qualquer tipo de avaliação... Conhecendo bem o meu público alvo como conheço - essencialmente mulheres - sei que isto pode ser algo desconfortável para vocês, porém recomendo vivamente que vejam, mesmo assim. Como feministas (no verdadeiro sentido da palavra), acho que é importante estarmos abertos a outros pontos de vista, mesmo que estes entrem em confronto com aquilo que acreditamos toda a vida. Afinal, parte do movimento que tanto estimamos implica ter também empatia pelos problemas dos homens.

Ainda não estou pronta para desistir do feminismo completamente ao contrário daquilo que a jornalista afirmou no final (porque ainda há tanto por conquistar), porém sinto que este se tem afastado muito do seu propósito original, a igualdade, tem-se tornado demasiado radical, odioso, silenciando completamente os problemas e gender-roles com que os homens têm de lidar. Precisamos de reformular o movimento (quem sabe, com um novo nome mais neutro) que abrace em pleno a luta pela igualdade de géneros,  em vez de perpetuar esta guerra sobre qual o género que deve ter mais privilégios. 

(Se quiserem aprofundar o vosso conhecimento sobre o tema e saber mais sobre o porquê deste documentário, recomendo que vejam esta Ted Talk)

23 comentários:

  1. Tudo o que nos coloca nos extremos não pode ser saudável, portanto, devemos lutar pela igualdade, mas sem cairmos no erro de colocar todos os homens no mesmo patamar, até porque temos vários do nosso lado [digamos assim]. Além disso, mesmo sem ter conhecimento do documentário, acredito que produções como esta nos ajudam a desmistificar certos conceitos e pensamentos; e, claro, perceber o que se passa para lá da nossa realidade.
    Já anotei a sugestão, obrigada!

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    1. O mal hoje em dia é mesmo esse, cair no fanatismo, e esquecermo-nos dos objetivos iniciais de cada movimento.
      Depois diz-me o que achaste :).

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  2. Mas é verdade que eles sofrem também discriminação! Se um pai decidir ficar em casa com os filhos não é visto com bons olhos, o meu chefe perguntou-me, aquando da minha primeira gravidez, se eu ia querer passar a contrato de 36 ou 32h mas ele não pegunta isso aos homens que são pais (não é por mal mas não pergunta), também são violados e é visto também com um olhar diferente (desde quando um homen não quer sexo não é?!)
    Ainda assim os homens têm, no geral muitos mais previlégios, há mais violações a mulheres e somos culpadas pelas mesmas com frequência, há mais abusos a mulheres. É relativamente normal falares mais dos casos que desfavorecem a maioria mas sim, há muitas áreas em que eles também sofrem e bastante!
    Lá está, estamos a lutar por igualdade e isso deve ser sempre o nosso foco!

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    1. E muita gente não sabe, mas os pais também podem usufruir de parte do lição de maternidade se assim o quiserem (por exemplo, a mulher ir trabalhar e ser ele a ficar em casa mais algum tempo).
      Concordo, só não concordo com a parte em que as mulheres sofrem mais violações. Aqui em Portugal acho que aquilo que acontece é que tantos homens não têm coragem de denunciar, e portanto não há dados. Mas nos Estados Unidos, por exemplo, o número ultrapassa até o das mulheres.
      Exatamente, esse deve ser sempre o nosso foco, no final!

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  3. Já vi o documentário e recomendo vivamente a quem não viu ainda. É um documentário bem diferente do que estamos habituadas e sim, não estranhem se precisarem de fazer umas pausas. Como feminista, inicialmente tive alguma relutância em ver o documentário e ouvir o lado oposto e fui adiando durante meses. Mas após um amigo meu me ter falado de alguns problemas vividos em segredo pelos homens, fiz um esforço e comecei a ver o documentário... Realmente foi a "Red Pill" que precisava!... Esta discriminação vai muito mais longe do que se pensa, tanto que em Portugal em 2017 houve mais queixas na igualdade de género por parte dos homens do que por parte de mulheres. O que a opinião pública disse? Que foi por estes estarem menos habituados a serem assediados moralmente ou sexualmente,... quando na verdade já há estudos que apontam que os homens são assediados moralmente e sexualmente mais frequentemente do que as mulheres. Eu própria já assisti bem mais vezes estes abusos feitos por parte de mulheres do que homens. (Já para não falar que são humilhados por outros homens e pelas mulheres se denunciarem) Fala também da questão do número de refúgios para acolher homens em casos de violência doméstica, da quais estes são vítimas, assim como o facto das crianças do sexo masculino serem expulsos dos refúgios onde a mãe e eles foram acolhidos por serem vítimas de violência doméstica, apenas por serem homens. (Não lhe é garantido este apoio, ao contrário das crianças do sexo feminino, mesmo após os 12 anos). Também a questão da circuncisão masculina que ainda é quase só por questões da religião. Os estudos que apoiam a técnica são extremamente falhos. Assumem que é vantajoso por diminuir o risco de transmissão de HIV, permitir uma melhor higiene e diminuir o risco de ter cancro do pénis. Já vários estudos analisaram o custo benefício e é apenas ridículo... A única explicação para esta prática apontada pelos especialistas é o negócio lucrativo aqui envolvido e questões relacionadas com a religião. Até no caso da fimose existe a possibilidade do homem ser operado e sem sofrer esta amputação. Na comunidade científica, cada vez mais tem sido classificada como uma mutilação, e que muitas vezes causa um sofrimento atroz a uma simples criança. Ainda bem que cada vez é menos feito na Europa, mas no resto do mundo esta é uma catástrofe que ninguém quer saber. Concordo com a opinião da autora: Eu preferia não ser uma mulher no século passado, mas também preferia não ser um homem no século XXI. Vejam, como mulher não senti que foi um ataque às mulheres ou ao movimento feminista, mas certamente senti que foi um soco no estômago a todas as formas que a sociedade tem usado para retirar direitos básicos aos homens, os silenciar e os fazer sentir vergonha apenas por terem nascido no corpo de um homem. Precisamos ouvir mais os homens, eles já não falam dos seus problemas e se ainda os formos a silenciar... É aquele documentário que é uma pena não passar nas escolas... Parabéns pela publicação e pela abertura em sugerir algo tão diferente do que estamos habituadas.

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    1. Muito obrigada pelo comentário informativo, argumentos bem on point :).

      Também foi a "Red Pill" que eu precisava, eu já sabia da existência de alguns problemas, mas desconhecia a gravidade do panorama masculino :0. Não fazia ideia que já existiam estatísticas dessas em Portugal, é algo que só prova o quão a comunicação social por vezes manipula coisas em nome de uma forte cultura de "igualdade de género" que favorece o feminismo radical. Também já assisti a abusos, até em contextos laborais, é chocante como encaram tudo como uma brincadeira.

      Foi um dos pontos que também me chamou a atenção, em todos os estados só existir um refúgio para homens e os outros recusarem-se por completo a recebê-los porque supostamente só por serem do sexo masculino são sempre os agressores. E quanto à questão das crianças, acho inadmissível a partir dos 12 anos não permitirem que vivam com as mães nesses refúgios quê, estão à espera que uma criança dessa idade já seja independente?

      Quanto a essa questão da circunsisão é mesmo isso, como enfermeira sei que não há nenhum argumento a nível de saúde válido e que justifique isso, é mesmo por questões de religião. Custou-me muito ver aquele mini vídeo que mostraram com o bebé a ser mutilado, não há mesmo outro nome para isso.

      Olha nem mais. Eu dei por mim, enquanto assistia, a pensar que também não queria ser homem no século XXI. Não é mesmo nenhum ataque de forma alguma, é só um ponto de vista diferente e uma chamada de atenção, digamos assim, para problemas que precisam de ser ouvidos.

      Muito obrigada minha querida :).

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  4. Nunca vi o comentário!
    Beijinhos,
    Espero por ti em:
    strawberrycandymoreira.blogspot.pt
    http://www.facebook.com/omeurefugioculinario
    https://www.instagram.com/marysolianimoreira

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  5. Definitely a great time to check this documentary out!

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  6. nunca vi mas o que vi aqui me parece bem bjs obrigada pela vesita volte sempre bjs

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  7. Não conhecia esse documentário, mas quero muito conferir!

    Beijo.
    Cores do Vício

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  8. Fiquei curiosa, tenho de ver!
    Um beijinho,
    http://myheartaintabrain.blogspot.com/

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  9. Não conheço o documentário mas, pelo que dizes, vêm na direção daquilo que penso sobre este assunto há já muito tempo. Que tudo têm um reverso da medalha e que esta posição de "coitadinhas" em que nos colocamos a nós mesmas não ajudam ninguém.
    Um grande beijinho e parabéns por teres ousado ver algo que, à partida, recusarias.
    Nala
    https://cidadedosleoes.blogs.sapo.pt/

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    1. É mesmo importante não nos colocarmos na nossa posição, sermos coerentes e saber defender as causas dos outros também da mesma forma que defendemos as nossas.
      Muito obrigada :).

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  10. olha, fiquei bem curiosa pra assistir... eu acho que para nós, mulheres, é difícil desistirrrrr do feminismo.. mas as vezes lutar desanima, principalmente pelo que vc falou: a coisa tomou um rumo diferente do real propósito.... é muito complicado e tenho a impressão de que a internet só piorou as coisas...

    Bjs

    Nat – Mulher Conectada

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    1. Não é preciso desistir, é preciso sim repensar o movimento.

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  11. Gosto muito daquilo que me faz questionar as minhas crenças mais básicas e deixaste-me o bichinho. Na realidade ignoramos muitas vezes os problema masculinos mas acredito que no feminismo há espaço para todos, para a igualdade e para a perseverança. Acredito no feminismo na sua génese e não em radicalismos, o seu preceito é simples e é por esse que me guio, por uma sociedade mais igualitária, democrática e justa em todas as suas frentes, porque mais do que homens e mulheres somos seres humanos. Fiquei curiosa, hei de ver!

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  12. Acho que qualquer pessoa que tenho o mínimo sentido humanista simpatiza com o movimento feminista que defende a igualdade naquilo que pode ser igual, porque um homem nasce com um pénis e faz xixi de pé e a mulher com uma vulva e faz sentada. Homem e mulher não são iguais nem nunca vão ser, contudo o que se quer é que tenham os mesmos direitos e oportunidades. Infelizmente temos vindo a assistir a coisas absurdas que até as próprias feministas francesas se riem quando vêem as americanas a reivindicar certas coisas. As mulheres por norma trabalham mais e ganham menos. São descriminadas nos lugares de topo e não se lhes dá tanta credibilidade. E isso tem e deve mudar. Mas depois fala-se de violência doméstica mas fala-se só na violência no feminino. Em Portugal 14 homens por dia fazem queixa de violência de agressões de mulheres e logicamente que estes números pecam muito por defeito. E quando um homem é vítima é vítima duplamente. É agredido, seja fisicamente ou psicologicamente mas depois ainda chega a uma esquadra e riem-se e dizem "chegue a casa e arreie-lhe"! Depois há quem defenda as cotas que eu acho um absurdo. Eu não quero ser escolhido para um lugar só porque não havia pénis suficientes e então eu fiquei com o lugar. Os melhores devem ser escolhidos e não em função do órgão sexual! E não vejo as mulheres exigirem cotas na construção civil por exemplo! Exigir que todas as empresas de construção tenham 50% de trolhas mulheres! Só se exige no bom, no mau esquece-se porque há sempre um homem a fazer esse trabalho. Sem dúvida que historicamente a mulher a mulher sempre foi o elo mais fraco, a começar na bíblia, de quem se diz que é a "palavra de deus" mas foi escrita pelos homens. E a bíblia é machista e misógina e em pleno século XXI ainda há juízes a defender acórdãos com a bíblia dizendo que mulher deveria era ser apedrejada até à morte. E há muita coisa que de facto está mal, mas depois vejo coisas ditas por mulheres (no Twitter por exemplo) que não lembram nem ao diabo! O movimento feminista precisa de gente convicta, não precisa que ninguém o deixe de ser, mas depois o que não falta para aí é gente com défice de senso comum e espírito crítico e incapacidade de se colocar no lugar do outro.

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    1. As cotas é uma coisa que para mim também não faz sentido. São criadas em nome de uma suposta igualdade no local de trabalho, mas criam mais ódio entre géneros do que outra coisa qualquer. No mundo de trabalho, a única coisa que deve ser avaliada é a competência para o cargo, independentemente do género.

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  13. Eu amei a premissa desse documentário, principalmente por ele ser neutro, sinto que vou conseguir entende-lo totalmente, já que eu não sou feminista e tenho meus motivos. Também não defendo completamente os homens, mas acho que antes de gênero, somos todos pessoas que deveriam se tratar sempre de forma respeitosa e imparcial. E eu concordo totalmente com o último parágrafo do seu texto, esse é um dos motivos pelos quais não me envolvo com o feminismo, que pra mim, tem virado um grande movimento politico ao invés de social.
    Beijo, Blog Apenas Leite e Pimenta ♥

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    1. Muito obrigada pela coragem em partilhar esse teu ponto de vista :).
      Beijinhos

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  14. Já anotei para ver mais tarde. Obrigada pela partilha, Cherry. Acho mesmo que estes assuntos devem ser falados e revistos.
    Beijinhos

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