No início deste mês, vi o filme " Lady Bird", que neste momento está na corrida para os Óscars (com seis nomeações, incluindo a de melhor filme), e que deixou a minha mente num rebuliço com uma questão : o controlo, mais especificamente, a quantidade de controlo que ambicionamos ter (ou não ter) nas nossas relações.
Há uma lasca de desejo de controlo em todos nós, mas a forma como este se manifesta é diferente. Lady Bird tentou ganhar controlo ao ter o seu próprio pseudónimo, ao mudar de aparência, a saltar de relacionamentos em relacionamentos, ao separar-se das pessoas que amava, ao distanciar-se da cidade onde nasceu.
A sua mãe tentou ganhar controlo do que a rodeia. Tentou que a filha se vestisse de certa forma, se comportasse de certa maneira e fizesse certas escolhas que correspondessem mais às suas expetativas. Além disso, usou o marido para manipular as emoções da família, criando um ambiente instável e deixando a filha fragilizada numa relação que, apesar das boas intenções, não deixa de ser emocionalmente abusiva.
Por fim, o pai, Larry, controlou calmamente aquilo que sabia que podia controlar. Ajudou a filha a concorrer para universidades longe da sua terra natal. Ajudou o filho a arranjar uma entrevista para o emprego a que ele próprio estava a candidatar-se, com plena consciência que não podia controlar o processo de contratação.
A principal pergunta que aqui se coloca é que tipo de controlo queremos ter. Que tipo de controlo queremos na nossa vida? Que tipo de controlo queremos nas nossas relações? Queremos controlar a nossa imagem e identidade de forma a corresponder às expetativas dos outros? Queremos controlar a vida dos outros de modo a que correspondam às nossas expetativas? Ou queremos aceitar que só podemos controlar a vida até certo ponto, e que o amor e a tolerância devem prevalecer?
O controlo exercido nas pessoas é algo que se pode aplicar em qualquer tipo de relação, mas o filme salientou uma especificidade muito importante: o controlo nas relações familiares. As relações familiares são mais complexas que as outras relações. Se, por exemplo, se zangarem com o vosso marido/mulher, podem divorciar-se. Mas se acontecer o mesmo com um familiar, não se podem divorciar deste. Podem distanciar-se, mas os laços de sangue impedem que se se separem completamente. Eventualmente, irão ter que arranjar forma de resolver o conflito ou viverão para sempre angustiados com isso. " Lady Bird" abordou as complexas dinâmicas familiares de forma brilhante, dura e crua, sem floreados.
Neste filme (e na vida) o pai de Lady Bird foi o que melhor soube agir perante o controlo. Só podemos controlar as coisas até certo ponto. A partir daí, temos de abdicar do controlo para sermos mais felizes. Não podemos forçar as pessoas a pensar e/ou a comportarem-se da forma como desejamos. Em vez disso, permitir que as pessoas à nossa volta cometam erros, estejam desconfortáveis, sejam sinceras, comecem a voar a partir de determinado momento, e nós estarmos lá para amparar as quedas, é a melhor maneira de as amarmos.
Ver " Lady Bird" mostrou-me o quanto o amor incondicional pode ser confuso e, por vezes, até perturbador. Nós vemos aquilo que queremos para uma pessoa, em vez de vermos aquilo que essa pessoa quer para si. Ver a protagonista e a sua mãe a tentar criar uma ligação é uma lembrança vívida que todos nós deveríamos usar para refletir acerca do modo como nos estamos a relacionar com aqueles que mais amamos.
( Post inserido no projeto " Movie 36", criado pela Lyne do blog "Imperium", em parceria com a Sofia do blog " A Sofia World" . Participantes: Inês Vivas, " Vivus" ; Vanessa Moreira, " Make It Flower"; Joana Almeida, " Twice Joaninha" ; Joana Sousa, " Jiji" ; Alice Ramires, " Senta-te e Respira" ; Sónia Pinto, "By The Library" ; Francisca Gonçalves, " Francisca" ; Inês Pinto, " Wallflower" ; Carina Tomaz, " Discolored Winter"; Sofia Ferreira, " Por onde anda a Sofia?"; Sandra, " Brownie Abroad"; Abby, " Simplicity"; Sofia, " Ensaio sobre o Desassossego" )
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Tinha visto o trailer e não gostei, mas, depois de toda a tua descrição do filme sem dúvida que tenho de o ver, vi as coisas de forma diferente e pelo que disseste parece-me ser um filme óptimo para percebermos como são os problemas das famílias.
ResponderEliminarO trailer não faz justiça ao filme, é mesmo muito bom, põe mesmo uma pessoa refletir.
EliminarTenho que ver esse filme - já o tentei ver mas a qualidade de imagem não era a melhor e nos entretantos desisti mas quero voltar a tentar!!
ResponderEliminarEu estava tão curiosa na altura que vi mesmo com essa qualidade.
EliminarEu ja vi muitos comentários sobre esta filha mas ainda não assisti.
ResponderEliminarwww.robsondemorais.blogspot.com.br
Bela postagem....
ResponderEliminarPor motivos profissionais, O Gil, poderá não conseguir chegar a todos. Motivo por qual estou aqui.
Deixo-vos com:- *As máscaras da ilicitude.*
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Bjos
Votos de boa noite
Obrigada :).
EliminarNão conhecia o filme mas fiquei mesmo curiosa! Tem todo o aspeto de ser o tipo de filmes que me atrai! Vou juntar à minha lista :D
ResponderEliminarDaniela.
Estou a seguir os filmes que estão nomeados para os Óscares e a tua descrição deixa-me curiosa porque me identifico na parte das fragilidades dos relacionamentos familiares. Mas no fim do dia continua a ser... Família! Beijinho!
ResponderEliminarFamília é família :).
EliminarBeijinhos
É muito mais fácil (para a nossa felicidade e para a nossa sanidade) quando compreendemos que não temos controlo sobre tudo. Somos humanos e temos limitações. Além de que, muitas vezes, esse controlo negativo acaba por provocar o oposto daquilo que pretendiamos.
ResponderEliminarNão vi o filme, mas pela tua descrição também senti que o pai foi o mais sensato. Porque percebeu até onde podia ir. O que é que estava ao seu alcança e o que é que passava dessa linha. Gerir relações (sejam elas de que natureza forem) é complicado, e ainda mais será se procurarmos controlar as pessoas ao segundo. É desgastante. E não faz qualquer sentido!
r: Exatamente, cada pessoa tem o seu ritmo e as suas prioridades. Não temos que ir por determinada direção só porque a maior parte vai. Há lugar para todos, desde que nos saibamos respeitar e aceitar que somos diferentes
Beijinhos*
É mesmo desgastante e acaba por destruir relações em vez de fortalecê-las.
EliminarNem mais. O respeito e a tolerância são o mais importante.
Tenho mesmo de o ver, já estava curiosa e ainda fiquei mais.
ResponderEliminarÉ como tu dizes, só podemos controlar até certo ponto e não podemos querer para outra pessoa o que ela não quer para si, está tudo diretamente ligado ao respeito e à nossa própria liberdade, aprendi muito em relação a isto.
"Só podemos controlar as coisas até certo ponto. A partir daí, temos de abdicar do controlo para sermos mais felizes. Não podemos forçar as pessoas a pensar e/ou a comportarem-se da forma como desejamos." não podia concordar mais com esta frase! O pior é que por vezes os pais ou familiares acham que com o controlo conseguem ter tudo na linha mas só estão a causar infelicidade a vários membros. Já vi este filme e gostei bastante da abordagem, é um conteúdo diferente de se ver, e também bastante essencial!
ResponderEliminarAs pessoas não gostam do que é imprevisivel, pelo que o controlo lhes dá uma sensação dr segurança que na verdade não existe. É por isso que amar é complicado.
EliminarVejo muito pouco cinema. Gosto mais de desporto. Mas concordo que existem bons filmes
ResponderEliminar.
tema de hoje
* Campos ondulando em flor, afectos infinitos *
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Votos de um dia feliz.
Vou juntar à lista de filmes a ver nos próximos dias.
ResponderEliminarObrigada pela partilha :)
Beijinho
Quero ver este filme, sem dúvida :)
ResponderEliminarNão vi o filme, mas segundo as tuas descrições, também me parece que o pai foi o melhor a definir o seu controlo. Controlou o que realmente estava ao alcance dele, mais ou menos a postura que tento manter.
ResponderEliminarTHE PINK ELEPHANT SHOE // Ganha um gekkopod e um comando bluetooth para as tuas fotos!
Ainda não vi este filme, vou adiciona-lo à minha lista p assistir.
ResponderEliminarBeijinho
doce-branca.blogspot.pt
Ainda não o vi, mas como já tinha dito está na lista para ver :)
ResponderEliminarAcho que as relações familiares são das mais complexas que podem existir. Se por um lado o amor incondicional é algo que não dispensamos, por outro lado este pode muitas vezes manifestar-se nessa tentativa errada de controlo. Não é que as pessoas o façam propositadamente, porque muitas vezes nem devem dar conta, mas ao tentar moldar quem amam por motivos que lhes parecem válidos só afastam essas pessoas.
É mesmo isso, as pessoas muitas vezes fazem-no inconscientemente, por achar que é para o bem da pessoa.
EliminarParece-me um filme muito interessante, talvez por retratar a realidade de muitas famílias - seja a mãe que se revê na filha, seja o pai que acha que sabe o que é o melhor para os filhos, seja o irmão mais velho que "manda" no mais novo...felizmente não passo por esse tipo de "controlo" ou abuso, mas suponho que é uma questão de responsabilidade. Confesso que é um medo que tenho relativaente à minha futura família, porque sou um bocado control freak e gosto de saber sempre que as melhores decisões estão a ser tomadas, por isso tenho consciência que vou ter que amenizar esse meu lado para permitir à minha família que siga o seu rumo, como eu tive oportunidade de fazer.
ResponderEliminarJiji
Acho muito importante que existam filmes a abordar estas temáticas, para oferecer consolo e apoio às pessoas que estão nesta situação.
EliminarEu também sou um bocado obcecada pelo controlo e, por isso, também tenho esse receio.
Isto é muito verdade. As expectativas que colocamos tanto em nós como nos outros (que raramente são cumpridas :P ) têm um peso enorme na nossa vida. É bom ter uma noção e necessidade de controlo até certo ponto - afinal, é isso que nos faz tomar as rédeas da nossa vida, tomar as nossas decisões e não ficar à espera nem à mercê de nada nem ninguém. Mas como em tudo na vida, tem de ser q.b. Há coisas que efetivamente não controlamos e mais vale confiar... ;)
ResponderEliminarMais um excelente post, Cherry!
Claudia - Mulher XL
www.mulherxl.pt
Obrigada :).
EliminarBeijinhos