Talvez a morte seja uma benção.
Andamos toda a vida a tentar a fugir da morte, a esquivarmo-nos dela, a enganá-la com medicamentos, consultas ao médico, visitas ao hospital, medidas de segurança,... Vivemos a achar que somos imortais e invencíveis, e só de vem em quando, quando perdemos um ente-querido ou uma grande tragédia assola o mundo, é que nós nos apercebemos que somos seres mortais e frágeis.
Parece que só soubemos viver corretamente na nossa infância. Em crianças o que nos move é pura e simplesmente a curiosidade. Todos os nossos sentidos se concentram na exploração daquilo que nos rodeia, e valorizamos todas as pequenas coisas da vida, os pequenos prazeres, os pequenos gestos de simpatia. Não há lugar para egoísmo, mágoa, vingança ou vergonha. Somos felizes porque não pensamos demais, e sabemos qual é o caminho a seguir: o caminho na direção dos nossos sonhos.
Porém, quando nos tornamos adultos, parece que todas essas qualidades que tínhamos se desvanecem. De repente, não apreciamos mais o ambiente que nos rodeia. Já não é a curiosidade que nos move. Agora o que nos move é a busca pela riqueza, pelo prestígio e pela fama. Começamos a abandonar os nossos sonhos de criança, e a achar que o caminho que outrora traçamos já não é possível, existem outros fatores com que nos devemos preocupar, os fatores que durante a infância eram conhecidos como "coisas de adultos", às quais não ligávamos. Agora devemos escolher o caminho que traga benefício ao maior número de pessoas, que agrade à família e orgulhe os pais, que dê estabilidade económica e prestígio. E é assim, meus amigos, que ficámos presos numa vida que não é a nossa, estamos a viver apenas a vida dos outros.
Ouvi uma vez, numa aula de Português o famoso provérbio " Vive cada dia como se fosse o último". Desde essa aula, este provérbio tem estado quase sempre na minha cabeça, e quase todos os dias, quando acordo, pergunto " Se este fosse o meu último dia de vida, será que eu faria o que vou fazer hoje?" Se a resposta é não por dias sucessivos, sei que tenho que fazer mudanças.
Todos nós temos medo da morte. Mesmo aqueles que dizem que não têm, têm inconscientemente. Mesmo aqueles católicos devotos que querem ir para o céu, desejavam que houvesse outra forma de ir para lá. A verdade é que ninguém quer morrer, mas talvez o foco da nossa preocupação não devesse ser o facto de morrermos. Porque desde que nascemos, esse é um facto garantido. Talvez o foco da nossa preocupação devesse ser antes como vamos morrer. Será que, no leito da nossa morte, vamos orgulharmo-nos de tudo aquilo que fizemos na nossa vida, ou vamos ficar arrependidos daquilo que fizemos?
Parece bastante macabro usarmos a morte como uma ferramenta para medir o grau de satisfação da nossa vida. É sim, macabro, mas bastante eficaz. Se todos nós pensássemos todos os dias que vamos morrer, talvez não cometêssemos metade dos erros que cometemos. Talvez não fôssemos tão egoístas, talvez não nos preocupássemos tanto em agradar as outras pessoas ( ou em saber a opinião delas) não nos chateássemos tanto por coisas mínimas, talvez seguíssemos os nossos sonhos, em vez de estar naquele emprego aborrecido e rotineiro que não nos diz nada. Porque, quando olharmos a morte nos olhos, todas essas coisas se vão desvanecer, e o verdadeiro propósito da nossa vida vai ser revelado, e saberemos aí se falhamos ou não nesse propósito.
Talvez a morte seja uma benção. Porque, sem ela, nunca poderíamos apreciar verdadeiramente o que nos rodeia, e nunca encontraríamos o verdadeiro propósito da nossa vida.
Impossível não gostar das coisas que tu escreves <3
ResponderEliminarBeijinhos,
An Aesthetic Alien | Instagram
Oh muito obrigada <3.
ResponderEliminarEu não tenho medo da morte, tenho medo da forma de morrer (acho que é bastante consensual que a melhor forma é durante a noite, enquanto se dorme, sem se dar por isso, sem dor). São duas coisas diferentes, o medo da morte e o medo da forma de morrer. Acho que quando morrer, simplesmente morrerei, por isso a morte em si não me assusta. O que há para ter medo nisso? No entanto, quero aproveitar ao máximo o tempo em que estou por cá, como dizes no texto. Fazermos uma avaliação de como está a nossa vida é muito importante: sabermos quais os são nossos sonhos, e o que está a ser feito neste momento para que eles sejam alcançados. Muitas vezes as pessoas esquecem-se disso, não é? Dos seus sonhos... E se não fizerem nada para que eles se realizem, eles simplesmente não se realizam. Óbvio, mas há muita gente que ainda não chegou lá.
ResponderEliminarEu confesso que tenho um pouco medo da morte, por ser algo desconhecido e por não saber para onde vou depois dela. Mas também tenho medo de morrer jovem e da forma como vou morrer. Sim, morrer assim como disseste é a forma mais consensual.
EliminarEu já realizei muitos sonhos meus, mas sinto que tenho longo caminho a percorrer para concretizar os meus maiores sonhos e, se morresse agora, óbvio que ficaria feliz com a vida que tive , mas ficaria desiludida por causa desses sonhos que não concretizei.
Não acho que utilizar a morte como um impulsor para vivermos com mais intensidade seja macabro. É algo natural, faz parte do nosso ciclo e é sim uma grande justificação para aproveitarmos todos os dias que temos até ao fim. Eu, por exemplo, não me sinto muito incomodada quando penso na morte. Aceito-a tal como ela é e quando me vem à cabeça de que num dia já não estarei aqui, tento sempre mudar o rumo da minha vida!
ResponderEliminarA Vida de Lyne
Eu confesso que me ainda incomoda um bocado a ideia, mas isso é por eu ser jovem, sei que quando chegar a velha não a vou temer.
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