Quando era mais nova, eu odiava tudo o que envolvesse confronto e conflito. Eu era incapaz de dizer não a uma pessoa, fosse para que fosse. Por isso, muitas vezes, em vez de me defender e lutar por aquilo em que eu acreditava, eu sorria nervosamente.
Durante muito tempo, eu vivi neste impulso de querer agradar sempre a toda a gente. E embora isto, à primeira vista, possa parecer sinal de bom coração e generosidade, garanto-vos que não me ajudou lá muito. Muitas vezes, senti-me sozinha, porque muitas das relações que criava eram unilaterais. Senti-me insatisfeita por estar a conduzir a minha vida de acordo com as preferências dos outros. E, sobretudo, senti-me exausta por estar a fingir ser uma pessoa que não sou.
A certa altura, o cansaço era tanto que percebi que tinha que mudar. Porque, caso contrário, as pessoas começariam a aproveitar-se de mim e, pior que tudo, eu não estaria a viver a minha própria vida. Não foi nada fácil. Infelizmente, este tipo de mudanças não acontecem de um dia para o outro. Durante tantos anos ( desde que me lembro, na verdade) tive esta tendência para agradar os outros que, a certa altura, isto já estava tão enraizado em mim, que o esforço para largar este mau hábito quase que equivaleu ao esforço que uma pessoa fumadora tem que fazer para largar o vício do cigarro.
Estaria a mentir se dissesse que já não sou assim. É certo que, a maior parte das vezes, já não me comporto desta forma. Mas, às vezes, ainda dou por mim a tentar agradar a alguém, e depois paro para pensar e penso " porque raio estou a fazer isto?". Porque, por mais que queiramos, é impossível agradar a toda a gente ( acreditem, eu tentei, e não deu). Vai haver sempre alguém que vai discordar de nós, quanto mais não seja para ser do contra. Por isso, estar continuamente a tentar fazer coisas para satisfazer os outros vai acabar por ser mais prejudicial do que benéfico.
Para me libertar deste mau hábito, e chegar onde cheguei, tive que aprender 5 coisas pelo caminho.
1. Aprendi a dizer não: Se queremos parar de estar sempre a tentar agradar aos outros, esta é uma das primeiras coisas que devemos fazer. E também é das mais difíceis. Pelo menos para mim foi, pois até aí "não" era uma palavra quem nem sequer existência no meu vocabulário, tal era o meu medo de a dizer. A primeira vez que dizes "não" é a mais difícil. A partir daí percebes que as pessoas não ficam zangadas contigo por recusares x convite ou por teres x opinião. Além disso, ao dizeres "não" ganhas tempo para ti próprio(a) e para as pessoas que queres mesmo ajudar.
2. As melhores relações só existem com discussões e confrontos: Quando decidi deixar de ser assim, descobri que as duas coisas que eu mais queria evitar, discussões e confrontos eram, na verdade, os componentes essenciais de um bom relacionamento. Nenhuma relação, nem mesmo as mais simples amizades, funciona sem estes dois ingredientes. A relação até pode existir, mas saudável não é de certeza. Todas as relações exigem esforço de ambas as partes, e muito desse esforço implica confrontar a outra pessoa quando há algum problema ou se discorda em algo, e trabalhar para ultrapassar os conflitos. Portanto, só conseguimos ter uma boa relação com as pessoas se formos honestos com elas.
3. As convenções sociais são arbitrárias e eu não sou obrigada a segui-las: Quem tem o instinto de querer agradar os outros também tem, naturalmente, tendência a querer encaixar-se nos padrões estabelecidos pela sociedade. Podem argumentar que certas convenções são necessárias para o bom funcionamento da sociedade, e eu não vou negar isso, mas muitas delas não são necessariamente " certas" ou " erradas". Eu cheguei a um ponto em que nem me precisei de esforçar mais para deixar de segui-las porque percebi o quão estúpido é seguir algo só porque assim foi estabelecido. Seguir estas condutas ditas " normais" só porque " sempre foi assim" ou " é a maneira como a sociedade funciona" não é para mim.
4. Eu consigo ( e devo até) desafiar o meu " eu" interior: Para deixar de querer agradar a toda a gente, eu tive que desafiar o meu " eu" interior, aquela vozinha na minha cabeça que insistia em dizer que eu estava a ser egoísta, má e que iria magoar os outros. A mesma voz que também dizia que eu iria acabar sozinha por estar a rejeitar seguir as " regras" da convivência em grupo. Essa voz ainda grita barbaridades dessas, mas eu já tenho argumentos prontos como " o mais importante é ser eu própria" ou " se algum grupo me rejeita, é porque não era o grupo certo para mim".
5. Antes de cuidar dos outros, tenho de saber cuidar de mim: A maior lição que tive que aprender é que querer cuidar de nós próprios não é ser egoísta, é algo que todos nós necessitamos. Após tanto tempo a concentrar a minha energia nas necessidades dos outros, tive que aprender a pôr as minhas necessidades em primeiro lugar. Se não tivesse aprendido mais cedo, iria aprender agora na faculdade. Enquanto ( futura) enfermeira, eu não consigo satisfazer as necessidades dos meus pacientes se não satisfizer as minhas primeiro. Tenho que me sentir bem comigo mesma e com energia para poder gastá-la com os outros. Se eu tiver cansada, muito provavelmente, só vou fazer asneiras e ninguém beneficia com isso. A nossa primeira responsabilidade somos nós próprios. Só depois é que vêm todas as outras responsabilidades.
E vocês? Já tiveram este impulso de querer agradar a toda a gente? Como é que o deixaram de fazer?
Já tive esse mesmo impulso de querer agradar a toda a gente. Não sabia dizer não e vi-me tantas vezes prejudicada por causa disso. Hoje em dia aprendi a não agradar ninguém. Não tenho que o fazer. :)
ResponderEliminarNem que seja em momentos pontuais da nossa vida, acho que todos nós passamos por esta etapa de querer agradar a todos, principalmente quando esses «todos» nos são próximos. Talvez seja um medo irracional de os perdermos se recusarmos fazer/dizer alguma coisa, talvez seja para conquistar uma determinada imagem, não sei os motivos ao certo, mas, muitas vezes inconscientemente, acabamos por seguir esse caminho. Quando percebemos que isso não é benéfico, custa fazer o percurso inverso.
ResponderEliminarConcordo totalmente com os pontos que enumeraste. Dizer não é fundamental e não temos que nos sentir culpados por isso. Os nossos constantes «sim» vão fazer com que as pessoas se aproveitem. E quando quisermos marcar a nossa posição não vamos conseguir. Além disso, desconfio muito de relações (sejam elas de que natureza forem) em que não há discussões. Porque as pessoas não pensam da mesma forma, porque há alturas em que as personalidades chocam. Nada é tão linear. Se não existe discussão, talvez não exista conversa, nem interesse para tal. Agora, claro que importa perceber o significado de discutir. É discutir no sentido de trocar opiniões, e não aquele discutir em que as pessoas não se sabem respeitar (porque, verdade seja dita, isso nem discutir é).
Temos que nos afirmar, partilhar os nossos pontos de vista, sem receio por serem diferentes dos outros. E quanto mais depressa percebermos que nunca iremos agradar a todos, mais depressa deixamos de colocar pressão negativa sobre nós.
r: São memórias mesmo boas *.*
Beijinhos*
Sim, todos nós já passámos, embora uns mais do que outros. No meu caso, eu exagerei um bocado. A certa altura, já quase que fazia parte da minha essência, por isso é que foi difícil largar este mau hábito :(.
EliminarDás-se-lhes o dedo e elas querem logo o braço, é sempre, acabam sempre por abusar. Eu também desconfio sempre. Exato, as pessoas acabam sempre por divergir em algo, é impossível nunca terem discutido. Sim, eu quando falo em discutir é nesse sentido, respeito é algo que também é essencial em qualquer tipo de relacionamento.
Não poderia concordar mais. Eu sinto como se tivessem me tirado um peso de cima dos ombros desde que deixei de tentar agradar a toda a gente.
Beijinhos
Eu não ando a saber cuidar muito bem de mim, infelizmente :( Beijinhos*
ResponderEliminarSe precisares de falar, já sabes. Beijinhos
Eliminaridentifico-me tanto mas tanto com este post!
ResponderEliminarsempre tive a tendencia de ser sempre outros e depois eu.
quando realmente percebi que estava a começar a ser um boneco nas maos dos outros começei a fazer realmente aquilo que queria e deixar de fazer as vontades todas aos outros e agora sim consigo perceber quem realmente +e meu amigo e quem era meu amigo por conveniencia.
Sinto-me muito melhor agora.
um beijinho - CS
Fico feliz por saber que ultrapassaste isso :). As pessoas acabam sempre por aproveitar-se, infelizmente.
EliminarBeijinhos
Eu era tal e qual como tu até me ter apercebido que só me usavam para o que queriam. Abri logo os olhos e mudei. Hoje sou capaz de fazer o jeito a quem vejo que também se esforça por mim. O resto das pessoas não levam nada do meu lado. Ao início foi difícil deixar de ser parva - porque era o que eu era - mas agora sinto-me feliz por não estar presa a convenções sociais que não me agradavam. Agora tenho fama de mau feitio e de ser do contra. Paciência. Pelo menos estou de bem comigo.
ResponderEliminarO que interessa é estares bem contigo mesma :). Eu não acho que isso seja ter mau feitio, eu acho que é ter bom senso.
EliminarIdentifiquei-me totalmente com este texto.
ResponderEliminarFui exactamente assim. Mas para deixar de ser assim tive de ter um "abanão".
Mas ainda hoje dou por mim a tentar agradar a alguém. :s
São hábitos difíceis de largar.
EliminarAdorei esta publicação! Antes também era muito assim, queria que todos gostassem de mim, mas cheguei ao ponto em que me cansei e percebi que não fazia qualquer sentido tentar agradar a toda a gente! Sem dúvida que o saber dizer não é essencial, muito difícil, mas essencial! E claro, valorizarmo-nos a nós próprios, sabermo-nos colocar em primeiro lugar!
ResponderEliminarBeijinho, Ana Rita*
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Obrigada :).
EliminarConfesso que nunca tive o impulso de querer agradar a toda a gente até porque é muito difícil! :)
ResponderEliminaramarcadamarta.blogspot.pt
Gosto que quem está à minha volta, sinta a minha presença/pessoa como alguém ou uma energia positiva, mas não faço nada apenas para agradar outrem.
ResponderEliminarQuem gosta de nós, não precisa de "folclore", ou seja, concordo (muito) com os 5 itens.
Eu também gosto disso, mas agora já não tento fazer mais do que isso :).
EliminarQue grande reflexão fizeste aqui, Cherry. É mesmo, mas mesmo muito importante que deixemos de nos importar a 100% com aquilo que os outros pensam ou sentem acerca de nós, e que deixem de influenciar as nossas decisões. Dizer um não é tão ou mais importante do que dizer um sim. Temos que saber discordar dos outros (com respeito, claro está), e temos que saber afirmar a nossa opinião.
ResponderEliminarTemos direito a ter voz nas nossas relações :) E eu fico contente que te tenhas afirmado, de certa forma. Estas são excelentes aprendizagens!
Muito obrigada Nani <3. Concordo a 100%. Muitas pessoas têm medo de dizer não, mas dizer não é fundamental para nos afirmarmos e marcar a nossa posição nas relações, e há formas de dizê-lo sem faltar ao respeito.
EliminarAcho que todos os passos que descreveste estão certos e fazem todo o sentido, também acho que fazem parte do crescimento natural das pessoas, quanto mais tempo passa mais percebemos que não temos de agradar a toda a gente, temos é de nos agradar a nós e vivermos bem connosco, isso é o que realmente importa, pois se não estivermos bem connosco não estaremos bem com ninguém, e vai sempre existir alguém que não gosta de nós, mas quando a isso não há nada a fazer :)
ResponderEliminarSim, uma pessoa acaba por chegar a essa conclusão, embora uns demorem mais do que outros (como foi o meu caso).
EliminarIsso é, sem dúvida, o mais importante :).
Eu sou tão assim!! Gosto de agradar toda a gente e perdoou tudo e todos o que, por vezes, pode nos deixar mal! Já fui pior neste aspeto, e agora faço mais o que quero e não o que os outros querem, mas confesso que ainda sou um bocadinho assim...
ResponderEliminarBeijinhos!!
Black Rainbow Instagram
Ótimo post! Agradar a todos só traz dores e sofrimento, o importante é saber dizer não e saber também respeitar o próximo! Bjs!
ResponderEliminarhttps://www.beautyandvibes.com/
Obrigada :). Exatamente, isso é o mais importante :).
EliminarAcho que todos já tivemos um momento ou outro em que não dissemos ou fizemos algo porque estávamos a pensar no que a outra pessoa iria pensar de nós. É inevitável isso acontecer, no entanto devemos minimizá-lo o máximo possível, devemos sempre ser nós e dizer o que queremos e o que não queremos. Afinal a vida é nossa e seja aqui ou na China haverá sempre alguém que vai discordar de nós, como tu disseste. As discussões (por mais chatas e difíceis que possam ser) são necessárias, dou-te um exemplo, quando a minha relação estava por um fio, eu e o meu namorado tivemos uma discussão que durou horas e horas, pusemos os pratos todos na mesa e hoje estamos melhor que nunca. Por vezes, basta só dizermos o que pensamos, com medo mas com coragem sem andarmos com meias palavras.
ResponderEliminarE, citando o teu último ponto, antes de cuidar dos outros temos de saber cuidar de nós.
Parabéns por este texto e pela força que demonstras ao querer mudar alguns aspetos que te permitem com o tempo ir ganhando a confiança que deves e mereces ter.
Sim, embora uns já tenham mesmo uma tendência natural para isso ( como é o meu caso). Se calhar a vossa relação estava com problemas precisamente por isso, por não estarem a comunicar de forma aberta. Mas ainda bem que tudo se resolveu e que agora estão felizes :).
EliminarMuito obrigada <3.