Como filha única, era quase inevitável ter pais superprotetores e rígidos. Talvez rígidos não seja a palavra ideal, soa a pessoas más, coisa que os meus pais nunca foram, sempre me ofereceram muito amor e carinho. Diria que foram muito exigentes comigo, e eu não podia fazer propriamente tudo o que me apetecia.
Foram muitas as vezes na minha infância em que desejei ter aquele tipo de pais relaxados, que deixavam os filhos deitarem-se às horas que queriam, comer porcarias na cama e sair quando quisessem. Porém, apesar de ainda desejar que os meus pais fossem um pouco menos rígidos, estou grata por ter tido a educação que tive, pois deu-me muitas qualidades e competências que me serão muito úteis na minha vida adulta.
1. Aprendi autodisciplina deste nova: Crescer com pais rígidos faz com que desenvolvas autodisciplina logo desde criança. E, a longo prazo, foi uma competência que já me safou em muitos aspetos da minha vida. Foi preciso autodisciplina para não me distrair e estudar para os exames nacionais do secundário, foi preciso ser disciplinada para ir às aulas da universidade em vez de ficar no café a falar, foi preciso disciplina para saber parar de comer numa festa cheia de doces bons... É, muito provavelmente, uma das melhores competências que ganhei com os meus pais.
2. Desistir nunca foi uma opção: Na minha casa, desistir nunca foi uma opção. Podia chorar a dizer que não conseguia fazer determinado teste, mas os meus pais obrigavam-me a fazê-lo na mesma. Eles instalaram em mim mesma um medo saudável de ser preguiçosa, pelo que sempre dei 100 % de mim em tudo a que me comprometi.
3. Presto muita atenção aos mais pequenos detalhes: Apesar de ser um pouco distraída ( e de ainda ser repreendida pela minha mãe por causa disso), eu considero-me uma boa observadora. Isto deve-se ao facto de todas as vezes em que a minha mãe me chamou para fazer melhor a cama, para apanhar algo do chão, ou para ajeitar uma moldura que ficou demasiado virada para a direita ( sim, a minha mãe é muito perfecionista). Apesar de, na altura, ser chato ter que estar a fazer tudo direitinho até ao mais ínfimo pormenor, agora estou grata por isto, porque esta qualidade já me impediu, por exemplo, de mandar mails para pessoas importantes com erros.
4. Sou boa a poupar dinheiro: Os meus pais nunca foram aquele tipo de pais que me davam dinheiro sempre que eu pedia. Eu tinha x dinheiro, semanalmente, que era merecido ( através do meu bom comportamento, sucesso escolar e realização de tarefas domésticas), e qualquer ação má que eu tivesse era suficiente para ficar sem semanada durante algum tempo. Isto incutiu em mim mesma um sentido de responsabilidade, de perceber que o dinheiro não nasce nas árvores, que é preciso trabalharmos para o receber e, quando o recebemos, não o devemos gastar " à balda", temos que saber poupá-lo e gastá-lo conforme as nossas necessidades.
5. Pensar demais está na minha natureza ( mas pode ser uma qualidade): Sou uma pessoa que pensa demais por natureza. Não posso dizer que isto seja culpa dos meus pais, porque acho que é algo que sempre fez parte da minha personalidade, mas diria que os meus pais amplificaram esta característica minha. No entanto, penso que pensar demais, apesar de ser extremamente irritante, por vezes, torna-se uma qualidade. Em vez de me "atirar de cabeça" para as coisas, penso conscientemente nos prós e contras de cada situação, e reflito sempre sobre os meus comportamentos, o meu desempenho e as minhas atitudes, aquilo que posso melhorar,... Basicamente, pensar demais também me ajuda a refletir melhor sobre mim mesma, o que acaba por ser bom.
6. Tenho uma boa postura: Ainda hoje, quando estou sentada num auditório da minha faculdade, consigo ouvir a voz da minha mãe na minha cabeça " Mete as costas direitas", pelo que me endireito logo ahahahah xD. A verdade é que uma boa postura não é importante só para a tua saúde, mas também para a tua autoconfiança e para transmitires a mensagem correta aos outros.
7. Domino a arte de ser persuasiva: Convencer os meus pais a deixarem-me fazer o que quer que seja não é tarefa fácil. Queres sair à noite? Bora lá elaborar uma lista de argumentos, um powerpoint e uma lista das amigas que vão e os seus respetivos números de telefone. Queres um novo telemóvel? É bom que tenhas uma boa razão para isso. Portanto, como devem imaginar, anos e anos disto deram-me boas capacidades de argumentação e de convencer pessoas a deixarem-me fazer algo.
8. Aprendi a escolher as minhas batalhas: Como devem calcular, nunca fui aquele tipo de pessoa que podia sair dois dias seguidos. Se saía na sexta, já não saía no sábado. Como resultado, tive que aprender a escolher as minhas batalhas. Se queria sair, não ia pedir aquela saia linda que vi no mesmo dia. Aprendi que nem sempre podemos ter tudo aquilo que queremos, pelo que temos de ser seletivos e perceber aquilo que realmente queremos e aquilo que nem precisamos tanto.
9. Encorajaram-me a trabalhar mais do que o necessário para entrar numa boa universidade: E, finalmente, estou agora a usufruir de uma boa experiência universitária, após anos de trabalho árduo.
10. Apesar de serem duros comigo, também me apoiam bastante: Já perdi a conta ao número de sacrifícios que os meus pais fizeram por mim. Já perdi a conta às vezes que o meu pai me foi buscar à escola, só para eu não perder tempo para estudar. Já perdi a conta às vezes que foi, à noite, tirar-me fotocópias para eu estudar. Já perdi a conta às vezes que a minha mãe me fazia companhia à hora do almoço, quando eu andava no Básico, para eu não ter que passar duas horas sozinha. Os meus pais sacrificaram imensa coisa por mim, e acho que nunca serei capaz de lhes retribuir. Estou muito grata por tudo aquilo que me deram e fizeram por mim. Foi graças a eles que eu sou aquilo que sou hoje e que cheguei onde cheguei.
E vocês, cresceram com pais rígidos? Que vantagens acham que tiveram? Contem-me tudo nos comentários?
Achei curioso a tua lista porque eu não acho que tenha, de todo, pais rígidos mas aprendi as mesmas coisas, os mesmos princípios e valores. Esta questão da parentalidade é sempre muito delicada porque toca-nos a todos, mas eu sempre gostei muito que os meus pais fossem permissivos. Não significa que sejam desleixados ou "relaxados", como até referiste na publicação, muito pelo contrário; fizeram sempre questão de me dar disciplina e educação. Mas também me deram a liberdade que me permite ganhar responsabilidade pelas minhas escolhas e decisões (as boas e as asneiradas). O que quero dizer é que já vi muita gente aproveitar-se de pais permissivos e de pessoas a arruinarem-se por causa de pais rígidos. Pessoalmente, não acho que os teus pontos tenham algo a ver com a rigidez dos teus pais mas sim com o teu carácter (como já referi, também tenho esses valores e outras pessoas certamente também os terão) e considero que o segredo é sabermos adaptar-nos à realidade da nossa educação. Essa é a tua realidade e adaptaste-te muito bem :)
ResponderEliminarGostei do teu comentário :) , agora puseste-me a refletir sobre como um mesmo tipo de educação pode gerar diferentes tipos de pessoas, dependendo da abertura que esta tem para a vida e para aprender.
EliminarO termo correto para os teus pais não será " relaxados", são mais permissivos, acho que tiveste o melhor dos dois mundos: pais que te deram liberdade para fazeres as tuas escolhas, mas que também te deram disciplina e educação.
Eu acho que, como em quase tudo na vida, a educação é uma mistura de fatores. No meu caso, acredito eu sou aquilo que sou hoje devido à educação que tive. Secalhar o meu caráter de facto, também terá contribuido para isto, também poderia ser assim com pais permissivos, mas acho que teria mais tendência a desleixar-me e a "enlouquecer" com tanta liberdade, como já vi a acontecer a algumas pessoas.
Porém, agora que penso, se não me soubesse adaptar, certamente arruinaria-me e não teria aproveitado destas vantagens que enumerei. Ainda assim, tenho que dar parte do mérito aos meus pais, porque, se tivesse que me adaptar a uma realidade diferente, os resultados certamente que também seriam diferentes. Não sei se me fiz entender.
Vinha comentar e deparei-me com o comentário da Inês por isso a única coisa que tenho a dizer neste momento é que subscrevo inteiramente o que ela disse!
ResponderEliminarEntão lê o comentário que lhe deixei, não sei se me fiz entender, mas é a minha opinião sobre o assunto :).
EliminarTambém sou filha única e identifiquei-me com muitos desses pontos!:) Tudo tem o seu lado positivo e o seu lado negativo.
ResponderEliminarAnother Lovely Blog!, http://letrad.blogspot.pt/
É, é como em quase tudo na vida :).
EliminarÉ interessante como não considero a minha mãe nada rígida mas temos algumas coisas em comum. Pessoalmente, e tendo por base o meu exemplo e dos meus irmãos, o carácter de cada um e as experiências do momento são de enorme relevância. Fomos criados pela mesma mulher extraordinária e somos todos diferentes, no entanto a minha mãe nunca fez qualquer distinção entre nós. Este assunto da educação tem pano para mangas mas é um assunto que gosto muito de abordar e discutir =)
ResponderEliminarRealmente, este assunto da educação têm muito que se lhe diga. É mesmo engraçado como irmãos que cresceram exatamente no mesmo ambiente podem ser tão diferentes.
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