Como sabem, este ano o meu estágio em contexto hospitalar foi no serviço de Oncologia, um serviço muito exigente física e psicologicamente. Por muito que nós estudemos na escola de Enfermagem como lidar com doentes em fase terminal, nada nos prepara para lidar com a morte dos nossos doentes. Existiram doentes a quem eu me afeiçoei bastante que, dias mais tarde, morreram, e eu senti-me como se estivesse a fazer luto da morte de um familiar meu ( porque, acreditem, vocês, quer queiram quer não, acabam sempre por criar laços com certos doentes que cuidam).
No entanto, é em alturas desafiantes que se aprendem as maiores lições. E digo-vos que, nestas semanas em que estagiei no serviço de Oncologia, aprendi lições muito valiosas, principalmente no que respeita a morte. A morte é uma realidade que todos nós temos como certa, mas que ainda é um assunto tabu para a maior parte das pessoas, por ser um tema tão pesado e difícil de lidar. Estas foram as lições sobre morte que eu aprendi em Enfermagem.
1. Lá porque alguém viveu muitos anos, não quer dizer que tenham experienciado tanto como outros: Já conversei com doentes que chegaram aos 80 anos e orgulhavam-se de ter vivido tudo o que queriam viver, e já conheci doentes da mesma idade que não fizeram metade. Também já conheci pessoas com apenas 50 anos, que fizeram mais do que doentes com 80 anos. A idade não é um medidor proporcional de experiências, cabe às pessoas essa tarefa de garantir que vivem o máximo possível.
2. Ninguém dura para sempre: Tal como já disse, a morte é uma realidade que todos nós temos como certa. A única pessoa que nunca te vai deixar na tua vida inteira és tu mesmo/a. De resto, os teus pais, irmãos, familiares, amigos, todos eles, eventualmente, te irão deixar.
3. A doença e a morte não discriminam: A idade, a saúde, a boa disposição, a riqueza ou a pobreza, o sexo e a raça não interessam. Toda a gente pode ficar doente e morrer em qualquer altura. Tu pensas que irás crescer com os teus irmãos/primos, só porque eles têm a mesma idade que tu. Pensas que vais ver os teus pais a envelhecer, vais envelhecer com a tua alma gémea e ver os teus filhos crescer... Lamento informar-te, mas nada disto é garantido. A ordem dos eventos na vida varia de pessoa para pessoa.
4. Família, amigos e experiências são as coisas que te irás lembrar no fim da vida: A quantidade de seguidores que tiveste nas redes sociais, o número de sapatos ou roupa que tiveste, a quantidade de jóias que tiveste não irão importar nada no fim. No fim da vida, aquilo de que irás lembrar mais serão as pessoas que te marcaram e as experiências que viveste.
5. A vida é mesmo uma dádiva: É nestas alturas, em que nos confrontamos diretamente com a morte, que percebemos que a vida é mesmo o quão temporária e preciosa é a vida. Todos os dias, dou graças a Deus por ter mais um dia para viver, mais um dia repleto de oportunidades e experiências à espera de serem vividas.
6. Com o passar do tempo, a morte não vai ser tão chocante para ti: Isto é algo que eu reparo nos enfermeiros mais experientes. Os enfermeiros já tiveram que lidar com tantas situações de morte que, a certa altura, deixa de ser chocante para eles. A certa altura, eles aceitam melhor que a morte faz parte da vida, e a ideia de que as pessoas morrem torna-se normal. Não quer dizer que não custe, porque vai custar sempre mas, de certa forma, torna-se mais fácil de lidar com esta.
7. Celebra a vida todos os dias: Nunca esperes para celebrar a vida. Não há momentos certos para celebrar a vida. Cada dia deve ser uma celebração. Celebra o facto de ainda estares vivo/a, de teres saúde, celebra a amizade e o amor, e celebra as oportunidades que te vão surgindo. Nunca pares de celebrar até ao fim da tua vida.
E vocês? Já passaram por situações em que se confrontaram diretamente com a morte? O que aprenderam? Partilhem as vossas experiências nos comentários.
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Interesting post
ResponderEliminarChic Poradnik
Posso dizer que é um post um tanto deprimente, mas é a realidade pura e dura! E por isso mesmo, gostei. Tenho uma amiga que é enfermeira e realmente vocês lidam com tudo o que nem se imagina. Por isso é que muitas vezes é bom terem algum humor negro para passar melhor as situações.
ResponderEliminarA nível racional, lido bem com a morte, lá está, tenho essa ideia bem presente de que é a única certeza que temos na vida. Emocional já é outra história!
E concordo contigo, temos de agradecer, seja lá a quem for, sobretudo o facto de termos saúde. A saúde é o mais importante. Enquanto isso podemos ir aproveitando tudo bem :)
Beijinhos
Automatic Destiny
Obrigada :). Sim, ter humor negro ajuda-nos a ultrapassar melhor as situações. Enquanto profissionais de saúde, temos que saber criar uma barreira e " desligarmo-nos" um pouco da realidade, mas atenção, sem nunca ser insensíveis.
EliminarExatamente, temos que aproveitar muito bem todos os dias :).
É algo com que não sei lidar, de todo! Beijinhos*
ResponderEliminarUma amiga minha trabalhou como auxiliar num hospital e ao fim de poucas semanas também falava deste assunto de forma mais "leve". A mim faz alguma confusão, confesso. Não sei se teria estômago...
ResponderEliminarA mim ainda me faz alguma confusão também, mas já não me faz tanta como há um ano, quando estagiei pela primeira vez. É uma questão de hábito.
EliminarLidar com a morte é sempre difícil, mas é mais que óbvio que isso nos pode ensinar muito (:
ResponderEliminarGrandes verdades que tu disseste. Não deve de ser nada fácil de ter de lidar com situações como a morte, mas acredito que com o tempo uma pessoa crie uma espécie de armadura para não se permitir sensibilizar tanto e cair na tristeza de ter perdido alguém.
ResponderEliminarÉ, eu vejo isso nos enfermeiros mais experientes, que criaram uma espécie de armadura.
EliminarEsta publicação fez-me pensar na minha experiência de estágio no hospital. Ainda que não tenha lidado com os doentes de forma tão prolongada quanto tu, afeiçoei-me a alguns e descobrir que tinham piorado da sua condição ou falecido, deixava-me sempre com um nó na garganta...
ResponderEliminarPor muito que nos habituemos, é sempre difícil.
EliminarEu acho que a morte continua sempre a ser chocante, as pessoas é que desenvolvem mecanismos de defesa caso contrário não conseguiam continuar a desempenhar convenientemente o seu trabalho.
ResponderEliminarMas atenção, a minha atividade profissional nunca envolveu nada relacionado com a morte, a minha opinião pode não ser a mais assertiva.
Eu percebo aquilo que queres dizer. Claro que a morte será sempre chocante, mas para quem lida com ela diariamente, como os enfermeiros, acaba por sendo gradualmente menos chocante. Nunca será fácil porém, com o tempo, os profissionais de saúde vão criando mecanismos para lidar com esta.
EliminarWow. Eu sinceramente não sei se teria coragem para lidar com a morte tão perto. É um assunto muito muito complexo... excelente post e parabéns pela coragem!!!
ResponderEliminarClaudia - MulherXL
Obrigada :).
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