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18.3.18

É estranho pessoas heterossexuais identificarem-se com filmes sobre homossexuais?


Na semana passada, vi o " Call me by your Name" e foi a história de amor mais deslumbrante que eu já vi. O filme conta a história de de um adolescente que se apaixona por outra pessoa, e é um retrato de um primeiro amor na sua forma mais pura, real e ao mesmo tempo desoladora. Todos nós nos identificamos com isto, não é verdade? Todos nós já vivemos um primeiro amor na adolescência, e sabemos o quanto intenso é e o quanto nos arrebata o coração. Mas e se eu disser que esta história de amor acontece entre dois homens?

Pois é, aí o caso muda de figura. Aí muitas das pessoas já não vêem o filme para se identificarem com a história ou retirar lições destas, mas mais numa de "tenho que ser uma pessoa mais de mente aberta" ou " Tenho que ser mais tolerante e, portanto, vou ver estas coisas.", ou ainda " Deve ser tão difícil ser gay na nossa sociedade, quero conhecer esta história tão inspiradora". Ninguém admite isto, nem a si mesmo mas, lá no nosso inconsciente, é por isso que muitos de nós, heterossexuais, nos pomos a ver filmes sobre homossexuais. 

Para satisfazer este público alvo, Hollywood aborda sempre as relações gays da seguinte forma: como relações proibidas, pais a expulsarem filhos de casa, e muita violência, homofobia, dramas e mortes à mistura. É por isso que, quando " Call me by Your Name" saiu, apareceram muitas críticas negativas. Quando souberam que esta era uma história gay, toda a gente estava à espera de muito drama como já estão habituados a ver neste género de filmes, e quando viram uma simples e bonita história de amor, muitos descreveram-no como vazio e demasiado aborrecido. Falharam em ver o filme como uma história de amor universal, que retrata as relações humanas na sua forma mais pura.

Entristece-me que a maior parte das pessoas só queira consumir histórias que são uma versão mais afloreada das suas próprias vidas e que não estejam dispostos a conhecer histórias que, embora à primeira vista não tenham nada a ver com a delas, as possam inspirar mais e ensinar mais do que qualquer outra. 

É claro que há algumas coisas que nós, heterossexuais não compreendemos nem nunca iremos compreender acerca dos homossexuais. Nunca tivemos que passar pela confusão, negação, pelo medo que descubram, pela repressão e pela coragem de revelarmos a nossa orientação sexual ao mundo. No entanto, existem muitas outras coisas que são universais em todo o tipo de relações humanas. 

Nós não compreendemos o que é sentir algo por alguém do mesmo sexo, mas compreendemos aquilo que é sentir algo por outro ser humano. Não compreendemos o que é andar uma carrada de tempo a tentar conquistar uma pessoa para depois perceber que, afinal, ela era heterossexual, mas compreendemos aquilo que é andar uma carrada de tempo atrás de alguém para depois perceber que, afinal, ela nos mandou sinais errados e está com outra pessoa. Nós, heterossexuais, não temos que lidar com pessoas que gostam de nós, mas que têm medo da sua própria sexualidade, mas temos que lidar com relações que não acontecem por outras razões que, às vezes, nem compreendemos.

A comunidade LBGTQ tem que travar muitas batalhas para ter o que nós tomamos por garantido. Porém, sentimentos como a paixão, o desejo, a busca incessante pela pessoa amada ou desgostos amorosos são universais e, portanto, todos nós podemos identificar-nos com um romance entre duas pessoas homossexuais. Mas mesmo que não nos possamos identificar com nada, a garra, a resiliência e a força de vontade que os membros da comunidade LBGTQ têm em muitos aspetos da sua vida podem ser verdadeiramente inspiradores para nós. 

Eu já vi muitos filmes e muitos romances LBGTQ e gostei e, não, não estou a duvidar da minha orientação sexual. Gosto apenas de uma boa história de amor, seja de que tipo for. Porque, para mim, amor é amor. E espero que um dia uma "história de amor gay" possa ser chamada apenas "história de amor".

29 comentários:

  1. Sou uma romântica incurável e tenho uma empatia enorme pelas personagens quando leio um livro e vejo um filme, independentemente do seu sexo, idade e orientação sexual. Acho super importante aumentar a diversidade de histórias e personagens, até porque acho que qualquer pessoa gosta de se sentir representada e ajuda a normalizar as "minorias".
    Posto isto, venham de lá mais histórias bonitas (e fica maior a minha curiosidade para ver este filme)!
    Beijinhos!

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    1. É por isso mesmo que eu acho super importante que façam mais filmes assim, para banalizarem todo o tipo de relações, e pararem de pensar nas relações heterossexuais como as padrão.
      Beijinhos

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  2. "Falharam em ver o filme como uma história de amor universal, que retrata as relações humanas na sua forma mais pura." concordo plenamente com esta frase. Na minha opinião, o filme retrata o amor, só o amor, não importa a sexualidade. Tornou-se, sem dúvida, num dos meus filmes preferidos!

    Beijinhos, Ensaio Sobre o Desassossego

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  3. É preciso inspirarmo-nos pela história em si, independentemente da orientação sexual dos protagonistas. Neste caso concreto, acho que esta parte devia ser o motivo principal para nos agarrarmos ao filme: "é um retrato de um primeiro amor na sua forma mais pura, real e ao mesmo tempo desoladora". Ir vê-lo só porque queremos aquela pancadinha nas costas, do género "vejo porque tenho a mente aberta" é só parvo. E, sinceramente, acho que só revela que não somos tão mente aberta assim. Porque a partir do momento em que temos necessidade de justificar, perde a autenticidade.
    Uso muitas vezes esse argumento quando discuto futebol: eu não entendo o que é ser do Benfica/Sporting/outro clube qualquer, porque não é o meu. No entanto, entendo e partilho toda a paixão que os adeptos têm, porque é a mesma que a minha, apenas a direcionamos para cores distintas. E isto aplica-se a tudo na vida. Porque o que está em causa é o conceito base. Identificarmo-nos com um romance entre casais homossexuais é tão válido como identificarmo-nos com o amor entre pessoas que não são do mesmo sexo, porque ambas são demonstrações de amor. E, tal como referes e bem, amor é amor. E não deveria ser necessário fazer qualquer tipo de distinção.

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    1. Exatamente, uma pessoa que gosta verdadeiramente destas histórias não tem necessidade de se justificar.
      E é um bom argumento. A rivalidade que existe entre adeptos dos diferentes clubes,para mim, é tão estúpido! Sou suspeita, não sou muito fã de futebol, mas acho que faria mais sentido agir assim: repeitarmos os outros clubes, reconhecê-los como iguais a nós apesar de diferentes, e aceitar que nem sempre podemos ganhar.

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  4. Não vi esse filme e, para ser sincera, não costumo ver filmes com romances homossexuais. Mas achei a tua reflexão fantástica! Eu gosto de filmes de romance, mas tenho o hábito de ver romances com casais heterossexuais. Acho que a maior parte das pessoas também, porque realmente esses costumam ser muito mais divulgados. No entanto, uma história de amor é uma história de amor, então qual a diferença de ver um filme como o "Call me by your Name". Sem necessidade daqueles dramas e esteorótipos de filmes gays. Concordo contigo, acho que não precisa haver distinção entre filme de romance gay e filme de romance hetero. É uma história de amor, simplesmente.

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    1. Tem muito a ver com isso, este tipo de filmes não costumam ter o tipo de atenção que o "Call me by your name" teve. Mas acredito que, após o sucesso deste filme, isso irá mudar.

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  5. Gostei muito. É tudo uma questão de...abrir a mente. Adorei :))


    Hoje:- Saudosa Viagem...

    Bjos
    Votos de uma boa Segunda-Feira.

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  6. Amor é amor, ponto. (Já dizia a Cristina Ferreira).
    Seja entre duas pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto, não entendo porque tem de haver sempre alarido e drama à volta de amor homosexual. É mesmo isso que dizes, o filme (que não vi, estou a basear-me na tua opinião) foi criticado por ser simples porque não cabe na cabeça das pessoas que um amor entre duas pessoas do mesmo sexo pode (e deve?!) ser normal, simples, bonito, sem stress como seria um amor heterosexual!
    Ainda há muitas barreiras a serem ultrapassadas! Esta é uma delas.

    Claudia - Mulher XL - www.mulherxl.pt

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  7. Eu gostei bastante do filme, talvez por ter homossexuais, homens e mulheres, no meu ciclo de amigos e família isso seja algo tão banal e normal, não me coloco essas questões todas que aqui falas, além de perceber o que queres dizer e de concordar contigo. Para mim as pessoas são todas diferentes, não escolham ser A ou B, simplesmente o são, e quando gostamos genuinamente das pessoas, aceitamos o que são sem problema, e é assim que sempre vi a coisa e tenciono continuar a ver.

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    1. Eu vejo as coisas da mesma forma que tu. Para mim, isto é uma escolha como tantas outras que todos nós fazemos.

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  8. Eu ainda não vi este filme. Está na lista dos que quero ver e a tua opinião deixou-me ainda mais curiosa. Até porque concordo com a ideia de que há uma certa universalidade nas histórias de amor que faz com que nos toquem a todos (independentemente da orientação sexual).

    Beijinhos

    http://miasteixeirapinto.wixsite.com/buongiorno

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  9. Olá olá!
    Gostei muito do post,por acaso nunca vi o filme mas gostava de ver!
    Beijinhos

    pimentamaisdoce.blogspot.pt

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  10. Deve ser mesmo triste. Compreendo o quão difícil seja uma pessoa assumir-se e viver enquanto gay numa sociedade que ainda é muito preconceituosa, mas a vida é demasiado curta para vivermos assim, com essa angústia toda. Tenho aprendido que mais vale sermos quem somos desde o início, desta forma estaremos a atrair as pessoas certas para a nossa vida.

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  11. A meu ver já deveríamos estar numa fase em que não é importante a orientação sexual de uma pessoa. Acho que as pessoas fazem disto um assunto muito debatido e por vezes tabu, mas é completamente natural.
    Adorei bastante da forma como escreveste, não poderia identificar-me mais :D

    Beijinhos,
    DEZASSETE

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    1. Exatamente, nesta fase isto já não deveria ser questionado. Enfim, em termos de mentalidades ainda temos muito que evoluir.
      Obrigada :).
      Beijinhos

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  12. ainda não assisti ao filme
    https://retromaggie.blogspot.pt

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  13. É o melhor filme que vi este ano... Talvez até nestes últimos anos

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  14. Confesso que da primeira vez que vi este filme o achei um bocadinho "parado", não pela falta de drama que referes, mas simplesmente demasiado parado. No entanto, vi-o uma segunda vez porque tinha gostado da história e da simplicidade em si e porque senti que me faltaram algumas respostas a algumas das minhas questões. A minha opinião manteve-se positiva, mas vi ainda mais beleza, mais naturalidade e os atores conquistaram-me totalmente.
    É uma história de amor bem bonita e simples, como deviam ser todas.

    Em relação ao que abordas concordo contigo, não é necessário todo o drama que se associa e filmes com casais homossexuais, muito menos deveria ser visto como "vou dar uma oportunidade", etc. Está muito bem conseguido e dou os meus parabéns ao realizador.

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    1. Acho que é um filme diferente no sentido em que é mais artístico e menos " comercial", portanto tem menos drama e ação do que aquilo que estamos habituados. Eu quando o vi já sabia disso, portanto soube apreciar melhor.

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  15. Adorei o filme. Para mim é apenas uma história de amor entre duas pessoas.

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  16. Só por causa desta crítica fiquei com vontade de dar uma oportunidade a este filme. Não o vi precisamente por pensar que seria o típico filme sobre descriminação e drama e doenças etc etc. Boa obrigada :)

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  17. Adorei tanto o filme como a tua análise dele. Embora a sociedade ter evoluído muito, ainda são raros filmes como o "call me by your name"; um filme que aborda a nossa realidade na sua forma mais pura e livre de quaisquer tabus.
    Quanto a ser talvez estranho pessoas hetero identificarem-se com uma história de um casal gay, não o acho. Eu mesmo sou gay e já me associei com muitas histórias hetero.
    É bom é também haver boa representação, que nos faz identificar com a história, que aborde as nossas próprias inseguranças e que nos demonstre que afinal ser nós próprios é normal :)

    Beijinhos <3

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  18. Adorei o filme!
    Acho super normal e não há preocupação,sobre isso é normal:)
    Beijinhos

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  19. Amor é amor, como já aqui foi dito. Sempre convivi com pessoas homossexuais, para mim, é normalíssimo. Como devia ser para toda a gente. Nunca vou entender porque é que a vida de cada um há-de fazer comichão aos outros. Mas posso só dizer uma coisa? "Para mim, isto é uma escolha como tantas outras que todos nós fazemos." Esse comentário teu? Não me leves a mal, mas tu escolheste ser heterossexual? É que os homossexuais também não "escolheram". Não é uma escolha como tantas outras. É uma coisa que faz parte das pessoas naturalmente, é uma orientação, não uma opção ;)

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    1. Pois, a maneira como escrevi isso de facto pode ser mal interpretada :). O que eu quis dizer foi: não, nós não escolhemos ser heterossexuais, mas escolhemos "ceder" à nossa atração por uma pessoa e construir uma vida com ela. Da mesma maneira, as pessoas homossexuais não escolhem ser assim, mas também escolhem seguir os seus sentimentos. Quer num caso queo no outro, por vezes escolhemos reprimir os sentimentos para seguir outros objetivos, ou por medo de ofender outros...

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  20. Amor é amor e ponto final. Ninguém tem que admitir ou assumir o que quer que seja. O que cada um faz na sua vida privada é consigo. Esta mentalidade que ao invés de evoluir, está a regredir, causa-nos muito, muito desconforto!

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