"". Life of Cherry: Normal People: a série e o livro correspondem mesmo à hype? !-- Javascript Resumo Automático de Postagens-->

9.10.20

Normal People: a série e o livro correspondem mesmo à hype?

"Normal People" já estava na minha lista de leitura do ano passado, mas ainda não tinha lido uma vez que não sou muito de ler tudo aquilo que é considerado hype em determinado momento. Normalmente, não confio muito quando algo está a ser falado tão incessantemente - as pessoas têm muito a tendência de ser "Maria vai com as outras". Prefiro ler quando já não se fala tanto, para não sair com expetativas furadas, mesmo que isso implique só conhecer histórias maravilhosas 500 anos depois (é o clássico comportamento da Cherry). Porém, desta vez, a partir do momento em que lançaram a série, ninguém se calava com "Normal People", em lado nenhum! Estavam em todo o lado, bloggers, youtubers, até nos podcasts, a falar do mesmo. Eu acabei por não resistir, e ter que ler e ver a série na mesma semana - juro que se a hype não fosse verdadeira eu ia matar alguém pelo tempo investido mas, vá, safaram-se desse destino cruel.

Ao contrário daquilo que é habitual nas minhas reviews, decidi fazer uma publicação com duas partes, a primeira a falar do livro e a segunda da sua respetiva adaptação televisiva, porque ambas conseguiram complementar-se uma à outra de forma belíssima!


O livro


Não escondo já que o livro foi o meu preferido. Eu sei, eu sou suspeita, a minha estima por livros é sempre maior que a minha estima por filmes/séries, mas neste caso tem apenas a ver com a subtileza do mesmo, porque eu nem tenho muito a apontar à adaptação (até é das melhores que já vi!). Numa narrativa lenta e sóbria, a autora dá mais enfoque à formação da intimidade emocional entre duas pessoas. Não há um climax, digamos assim, o enredo acontece nos encontros e desencontros dos protagonistas, conforme vão navegando por várias fases da vida. 

À primeira vista, este pode parecer mais um YA, contudo não é o caso. Em primeiro lugar, por se passar na universidade, mas também por abordar temas considerados pesados, como depressão, ansiedade, violência, famílias disfuncionais, bullying... Aliás, foram estes temas que fizeram com que eu tivesse um pouco mais de empatia pelo Connell e a Marianne porque, não fossem os seus sérios problemas pessoais, eu nunca compreenderia porque é que duas pessoas que obviamente se amam andam sempre ora a namorar, ora a acabar (algo que me irrita tanto que seja tão romantizado!). Confesso que muitas vezes me senti frustrada até, tamanha era a falta de comunicação deste casal fictício. Isto é apenas, claro uma perspetiva baseada em experiências pessoais distintas das personagens, provavelmente, esta é a realidade de muitos relacionamentos de jovens da geração atual (é irónico como, mesmo com tantos meios de comunicação ao seu alcance, não se consigam entender).

Por outro lado, os momentos da trama em que os protagonistas realmente estavam juntos foram tão enternecedores. Ver retratadas as emoções de quando nos apaixonamos no seu estado mais puro, as conversas íntimas, a amizade que cresce lado a lado com o amor (sim, porque quem diz que o nosso parceiro não pode ser também o nosso melhor amigo?), o carinho escondido em cada gesto... Em "Normal People", as relações amorosas são apresentadas no seu estado mais cru, exatamente como acontecem na vida real se deixarmos de complicar tanto e mostrarmos,sem reservas, o nosso verdadeiro eu  à outra pessoa. 


A série




Naturalmente, tendo sido a BBC a fazer a adaptação televisiva (em parceria com a Hulu), a história perde um pouco a subtileza do livro - motivo pelo qual, apesar de também ter adorado, não consigo a considerar  melhor do que o mesmo. É adicionada uma carga de dramatismo, é dado mais enfoque à intimidade física - tem muitas mais cenas de sexo, porém nada de vulgar como eu temia que fizessem, mais ao estilo de Call Me By Your Name. Falando um pouco dessas cenas, logo nas primeiras temos um clara demonstração do consentimento e de como as primeiras relações sexuais podem ser sim estranhas e engraçadas sem, no entanto,  perderem a magia dos filmes e serem caracterizadas por dor ou insegurança. Desta forma, "Normal People" em versão série mantém-se na mesma, fiel ao guião original, que apresenta o sexo como algo que pode ser tão íntimo e extraordinário. Ao invés das representações objetificadas que chegam a ser desconfortáveis de assistir, aqui é mostrado sexo que geralmente não costuma ser representado nos media, ao ser consensual e acompanhado de sentimentos de descoberta e afeto pelo outro. 

A série tem uma aesthetic que a ajuda a aproximar-se da sensibilidade do livro. Noutra fase da história audiovisual, a adaptação de "Normal People" teria sido em filme - passar um livro com apenas 280 páginas para 12 episódios foi uma jogada arriscada que podia ter corrido muito mal - porém, curiosamente, a série conseguiu aguentar-se precisamente por esta bonita cinematografia, entre o ritmo e a comtemplação, mérito de diálogos bem feitos e um elenco bem escolhido.  Claro que esta abordagem  foi conseguida desta forma por Sally Rooney ter trabalho no roteiro, o que faz com que a adaptação tenha sido tão fiel ao original.

A passagem de tempo é, neste formato, mais notável, sendo possível visualizar mais claramente o amadurecimento de Connell e Marianne. Connell luta contra inseguranças que até ali desconhecia, enquanto Marianne parece desabrochar no ambiente universitário, escondendo, ao mesmo tempo, problemas do passado. Assim, além da relação de idas e vindas incessantes, também é explorada todas as mudanças individuais que o começo da vida adulta traz.

O final da série foi ligeiramente diferente da do livro, contudo dentro do mesmo tom - um final aberto em que podemos pensar em vários cenários possíveis, tal como na vida real. Portanto, podem acreditar na hype, é muito justificada.

11 comentários:

  1. Devo ser a única pessoa no mundo que ainda não viu a série nem leu o livro :/

    ResponderEliminar
  2. Eu também não...

    Beijos e abraços.
    Sandra C.
    Bluestrass

    ResponderEliminar
  3. O livro é um dos meus favoritos deste ano. Gostei muito!
    Quanto à série, ainda não a vi porque não sou assinante da HBO. Pretendo criar primeiro uma lista de séries da HBO e tentar ver todas seguidas aproveitando uma ou duas mensalidades 😊
    No entanto, fiquei ainda mais curiosa para ver a série depois de ler a tua opinião. Obrigada pela partilha!

    ResponderEliminar
  4. Só li o livro, mas adorei-o, porque a história é muito humana e isso cativou-me de imediato. Compreendo o ponto de vista sobre a falta de comunicação, mas acho que até isso foi bem captado, uma vez que, infelizmente, o que mais se vê são relações a sofrer disso mesmo. Além disso, tem temas de máxima importância e é interessante ver como a ligação deles consegue ser tão complexa e tão cúmplice em simultâneo.
    Tenho de ver a série *-*

    ResponderEliminar
  5. Nunca li o livro nem vi a série.
    Bom fim de semana.
    Isabel Sá  
    Brilhos da Moda

    ResponderEliminar
  6. Ainda não vi a série e não conferi o livro, mas parece bem interessante. Vou dar uma chance a essa série.

    Beijo!
    Cores do Vício

    ResponderEliminar