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3.6.20

Diagnósticos em saúde: só os médicos é que o fazem?


Diagnóstico. Quando lêem esta palavra, aposto que a maior parte de vocês associam logo aos médicos, não é? Afinal são os médicos que fazem os diagnósticos, os outros profissionais trabalham a partir daí, não é, porque é que iriam associar a outra coisa, pensam vocês? Ora, porque esta ideia é errada, meus caros amigos. Os médicos não são as únicas pessoas que podem diagnosticar uma pessoa. Agora se me disserem que são os únicos profissionais que podem fazer diagnósticos médicos assim sim, já estamos a conversar. Isto porque existem diferentes tipos de diagnósticos muito específicos à sua respetiva área, desconhecidas pela população em geral, uma vez que a primeira tendência que têm é pensar logo em "médico, consultório". 

Dando uma de escrita de tese (porque eu fiz uma investigação direitinha, não brinco em serviço), conceito de diagnóstico tem origem  na palavra grega diagnõstikós, que significa discernimento, faculdade de conhecer, de ver através de. Na forma como é usado, na atualidade, significa estudo aprofundado realizado com o objetivo de conhecer determinado fenómeno ou realidade, por meio de um conjunto de conhecimentos teóricos, técnicos e metodológicos. O que significa que, apesar de ser tradicionalmente usado na Medicina, entretanto este termo já foi incorporado aos discursos e práticas profissionais de diferentes áreas da saúde. Com base na minha própria profissão, com a ajuda de outros profissionais da blogosfera e com alguma pesquisa no estatuto das referidas profissões, consegui reunir alguns exemplos para mostrar todo o mundo de diagnósticos que existem para além dos médicos, e como eles se complementam uns aos outros.


1. Diagnósticos médicos: Começando pelos diagnósticos mais conhecidos, os diagnósticos médicos, ao contrário das crenças populares, foca-se essencialmente nas patologias. Um diagnóstico médico trata a doença ou a condição médica da pessoa, e é orientado para a cura da mesma.  Um exemplo de diagnóstico médico é Acidente Vascular Cerebral. Os médicos seguem fundamentalmente uma perspetiva biomédica, muito embora estejam a mudar agora para uma perspetiva biopsicossocial. 

2. Diagnósticos de enfermagem: Por outro lado, um diagnóstico de enfermagem concentra-se na pessoa de uma forma holística, ou seja, na pessoa como um todo. É como se fosse a resposta humana aos diagnósticos médicos. Pegando no exemplo acima, se o diagnóstico médico de uma pessoa for um AVC, o enfermeiro centra-se na pessoa em uma transição saúde-doença, em que colabora com a pessoa neste processo de transição. Face ao diagnóstico médico de AVC, o enfermeiro autonomamente antevê as necessidades específicas da pessoa face a este doença - e os diagnósticos de Enfermagem serão algo como risco de queda, dependência para vestir-se/despir-se em grau elevado ou comunicação comprometida. Fora do hospital, na maior parte das vezes os enfermeiros fazem diagnósticos sem a pessoa ter sequer alguma doença subjacente. 

3. Diagnósticos nutricionais: Ainda menos conhecidos do que os dois primeiros, existem os diagnósticos nutricionais, da competência e exclusiva responsabilidade dos nutricionistas. O estado nutricional é um dos componentes de saúde, que é influenciado pelo consumo e utilização de nutrientes e, claro pelas necessidades individuais, sendo estas informações obtidas a partir de exames clínicos, dietéticos, físicos e antropométricos. Um diagnóstico nutricional resulta da análise final de todos estes exames de avaliação do estado nutricional. Os nutricionistas não têm uma CIPE como, por exemplo, os enfermeiros, mas empregam termos que se traduzem em diagnósticos, como desnutrição. 

4. Diagnósticos psicológicos: Os diagnósticos psicológicos, realizados pelos psicólogos, são muito menos lineares do que os três primeiros devido, principalmente, à própria complexidade da mente humana e ao desconhecimento que temos desta área em relação ao nosso corpo. Os psicólogos, para diagnosticarem uma pessoa, têm por base a compreensão da estrutura da personalidade e funcionamento mental do indivíduo, considerando a sua realidade biopsicossocial, estudando traços de personalidade, competências cognitivas e de memória, entre outras dimensões. O diagnósticos psicológicos dependem da área (psicologia clínica, forense, etc.), porém, trocando por miúdos, têm como objetivo a pessoa tomar consciência do próprio problema e auxiliar na sua tomada de decisão. Não confundir com os psiquiatras, cuja atuação se baseia nos sintomas físicos dos transtornos mentais e na prescrição de medicamentos.

5. Diagnóstico fisioterapêutico: Sou sincera, foi o único no qual eu não falei com o respetivo profissional da área, porque não encontrei ninguém até à data de publicar este post, pelo que me baseei apenas naquilo que pesquisei. Assim, se alguém da área me corrija nos comentários se eu estiver errada. Avançando este disclaimer, o diagnóstico fisioterapêutico, realizado pelo fisioterapeuta, tem como finalidade identificar, quantificar e qualificar o distúrbio cinético-funcional de orgãos e sistemas, sensíveis à abordagem fisioterapêutica, direta ou sinergicamente. Continuando com o exemplo do AVC (por esta altura, já deu para perceber o quão conectados estão todos pontos, né?), sendo esta doença caracterizada pela perda rápida de função neurológica, um diagnóstico fisioterapêutico seria algum tipo de discinesia muscular, como uma hipocinesia (que é uma diminuição redução do movimento).


Em saúde, todos os profissionais são colegas autónomos, e ninguém manda em ninguém. Complementam-se, mas cada um atua de acordo com a sua área de saber. Naturalmente, este é um resumo simplista daquilo que são os vários diagnósticos em saúde - que, com o passar do tempo, vão evoluindo ainda mais - pelo que vos convido agora nos comentários a escrever aquilo que ficou por dizer , o que acrescentariam noutros pontos ou até que outros diagnósticos em saúde conhecem, estou curiosa para ler. 

25 comentários:

  1. Seja como for, só tenho a dizer muito bem dos Enfermeiros em geral. Ninguém é igual a ninguém- certo-, mas já dependi muito de toda uma equipa de enfermagem (incluindo médicos) Claro mas foi com os Enfermeiros que senti feliz e vida. Pronta para recomeçar uma outra realidade! Abençoados sejam os Enfermeiros...

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    Areia molhada, e um silêncio no coração.

    Beijos e uma excelente tarde!!

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    1. Fico muito feliz por teres tido uma ótima experiência com os meus colegas :).
      Beijinhos

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  2. O saber nunca ocupou lugar, como se costuma dizer. Portanto, é bom irmos desmistificando estas questões, até para conhecermos a abrangência de determinadas profissões. E sinto que, de um modo muito direto e claro, conseguiste isso :)

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  3. Existem, como explica e bem, os mais variados diagnósticos. Claro que diagnósticos médicos, só os médicos, como o próprio nome indica, o fazem
    Gostei muito do texto e das explicações

    Cumprimentos

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  4. Gostei imenso do teu post e achei extremamente relevante porque, sendo eu estudante da área da saúde, apercebo-me cada vez mais do lobby que é a Medicina e de que como os outros profissionais são tão menosprezados e diminuidos. Como tu aqui mostraste, as várias áreas da saúde têm os seus próprios métodos de fazer diagnósticos e todos eles diferentes.
    (Ainda) não sou fisioterapeuta, mas estou no segundo ano do curso e a importância de fazermos uma boa avaliação do nosso utente e, por consequência, um bom diagnóstico é realçada logo desde o início do corpo. Infelizmente, as pessoas ainda acham que precisam de passar por um médico para aceder aos cuidados de Fisioterapia e que é o diagnóstico de um médico que orienta o respetivo tratamento, mas isso atualmente está muito longe da verdade. À semelhança do que falaste relativamente ao diagnóstico em enfermagem, também o diagnóstico em Fisioterapia visa olhar para o sujeito segundo a visão mais holística possivel e não para um só músculo ou uma só parte do corpo onde está a lesão, porque muitas vezes aquilo que parece ser inicialmente a causa do problema revela-se ser a consequência de um problema noutra qualquer parte do corpo. Resumindo e concluindo, o diagnóstico em Fisioterapia é muito virado para as estruturas e funções e para a funcionalidade, de modo a perceber o que está limitado ou comprometido e perceber, através de fatores pessoas e ambientais da própria pessoa, onde pode estar o problema.

    Já me alonguei um bocadinho, por isso resta-me agradecer-te por trazeres este tema à internet e por informares as pessoas daquilo que é a saúde hoje em dia! Gostei imenso do post.
    Beijinhos

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    1. Olha, confesso que nem me tinha lembrado de ti, estava tão fiada a procurar profissionais e podia ter falado também com alunos.
      Sim, infelizmente ainda vivemos numa sociedade muito medicalizada por assim dizer e questões como esta nem sequer ocorrem na cabeça da população em geral, daí a importância de falar sobre isto. E lá está as pessoas procuram mais os médicos do que os fisioterapeutas porque desconhecem ao certo a função de cada um.

      É mesmo um bocado como Enfermagem, acharmos que a causa de um problema é uma coisa quando pode ser outra, muito interessante.

      Não te alongaste nada, obrigada pelo comentário, foi um ótimo extra para o ponto de fisioterapia :).
      Beijinhos

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    2. Não tem mal nenhum, mas se voltares a precisar de ajuda pode ser que consiga ajudar qualquer coisinha ahahah
      Obrigada eu! Beijinhos grandes

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  5. Bom, sobre diagnósticos em saúde, não arrisco uma palavra. É um tema demasiado sério e complexo e não me sinto minimamente apto para tal. Limito-me a avaliar os diagnósticos que fazem sobre mim (e nem sempre sobre saúde, pois há quem pense saber mais de nós do que nós próprios lol) e já não é mau quando percebo alguma coisa. :)

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    1. Numa sociedade com cada vez mais acesso à informação não é incomum as pessoas já irem com conhecimentos de diagnósticos que lhes poderão ser feitos :), o importante é não colocar o Dr.Google acima de tudo xD, mas é sempre bom saber algumas coisas.

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  6. Achei esse post muito relevante, principalmente depois da altura critica que o SNS viu.
    Na minha opinião a sociedade portuguesa está muito focada no diagnostico médico, e na opinião médica. Não estou a menosprezar a classe médica mas acho que já está na altura de darem a mesma importância aos outros profissionais, pois sozinhos os médicos não fazem nada.
    Quando andei em enfermagem mudei muito a minha opinião sobre ambas as classes e sobre como é gerido os cuidados de saúde em Portugal. Espero que depois dessa crise pela qual passamos a sociedade continue a dar o devido valor a todas as classes, não só aos médicos, e os apoiem nas suas lutas, porque nenhum profissional vive de aplausos.
    Espero que na próxima greve dos enfermeiros pensem que são também pessoas, que merecem reconhecimento e mais apoios, que não são os "paus mandados" dos médicos, como muita gente ainda pensa. Beijinhos ♥

    Maria Vieira

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    1. Claro, nem eu estou a menosprezar a classe médica com este post, só quero dar mais destaque a outros profissionais :).
      Verdade, mas mudanças destas levam muito tempo, não sei se com esta pandemia as coisas mudaram muito para nós. Mas foi um começo para nos dar mais destaque, agora é aproveitar para fazer ouvir mais a nossa voz.
      Beijinhos

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  7. Achei este post muitíssimo relevante, trabalho na área da saúde e nao podia concordar mais com o que disseste.

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  8. Nem mais, existem diferentes tipos de diagnósticos. Excelente post. :)
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  9. Não fazia ideia que havia tantos diagnósticos e tantos processos clínicos. Obrigada pelo excelente post ;)

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  10. É sempre bom aprendermos mais um bocadinho e este post foi um poço de informação, que incrível!

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  11. profissionais de saúde, sejam eles médicos, enfermeiros, profissionais de outros ramos na medicina, todos são essenciais e complementam-se entre si. gostava de acrescentar a classe farmacêutica, tenho uma amiga farmacêutica que, em conjunto com uma outra amiga enfermeira, me esclarecem muita coisa sem precisar de recorrer a um médico cada vez que acontece alguma coisa

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    1. também é um bom exemplo, já fui esclarecida por muitos farmacêuticos :).

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