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10.6.17

Como comunicar com pessoas desorientadas?


Há uns tempos atrás, eu vi um filme chamado " Beleza Colateral" ( que, já agora, recomendo, é mesmo bom!) , e houve uma cena que me chamou à atenção, não por ser a melhor cena do filme ( porque aquele filme tem muitas cenas boas) , mas porque me ensinou algo interessante. Sem dar spoilers,  havia uma personagem cuja mãe estava desorientada, tinha uma doença qualquer ( como uma demência ou algo do género) que, basicamente fazia com que visse e falasse coisas que, para nós, não fazem sentido. A personagem principal usava uma técnica interessante para se poder relacionar com a mãe: como não conseguia fazer com que ela ficasse orientada e tivesse uma conversa dita " normal", "entrava no mundo" dela e conversava sobre as coisas absurdas que ela via. E resultava, de facto. Além de conseguir conversar com ela, conseguia manter uma relação de confiança e amor com ela. Perguntei-me se isso resultaria na realidade.

Como sabem, estou no 2º ano de Enfermagem, e já é o segundo ano que estagio. No início do 2º semestre, estagiei em Oncologia, já estagiei em Ortopedia, e agora estou a estagiar em lares de idosos.  Em Oncologia tive, como devem calcular, de lidar com muitos doentes desorientados, mas também existiram doentes assim em Ortopedia.

Em Oncologia, eu nunca soube lidar muito bem com este tipo de pessoas. Por vezes, tentava fazer com que vissem a realidade, mas rapidamente percebi que isso era inútil. Portanto, limitava-me a ignorar o que elas diziam, o que também não era lá muito eficaz, porque estava a criar uma "barreira" que me impedia de estabelecer uma relação terapêutica e de confiança com eles.

Entretanto, fui para o estágio de Ortopedia,  e voltei-me a cruzar com doentes assim. Porém, desta vez, após ver o filme, decidi pôr em prática a estratégia que aprendi. E, de facto, resultou mesmo! Ao entrar no mundo "imaginário" de um doente desorientado, consegui ganhar a confiança dele, e fazer com que ele colaborasse comigo nos cuidados de enfermagem que lhe prestava e que, sobretudo, falasse comigo. Pus em prática a mesma estratégia em lares de idosos, e também resultou.

A questão que se coloca aqui é: será esta a melhor forma de lidar com pessoas desorientadas? Será correto do ponto de vista moral/ético?

Na minha opinião, penso que não seja lá muito correto do ponto vista moral/ético. Afinal, estamos a "alimentar" ainda mais a desorientação de uma pessoa, a fazer com que ela acredite mais naquilo que pensa que vê. No entanto, não vejo outra forma de lidar com este tipo de pessoas. A verdade é que muitas destas pessoas têm doenças como Alzheimer, que fazem com que sejam assim e, como tal, precisam de alguém que cuide e olhe por elas. E é impossível cuidar delas se tivermos sempre a tentar contrariar aquilo que elas acreditam ser a realidade: elas não ficarão mais orientadas, ficarão revoltadas e vão-se recusar a colaborar connosco.  Pelo contrário, se "entrarmos no mundo" delas, ganharemos a sua confiança e, por sua vez, faremos com que comuniquem e colaborem connosco. Uma vez no estágio, partilhei esta questão com uma enfermeira, e ela disse-me exatamente isto, que pode não ser correto, mas é a melhor forma de lidar com doentes assim.

Assim, é esta a forma que eu encontro de lidar com pessoas assim no meu estágio. Até agora, tem resultado bem e, graças a isso, tenho conseguido prestar bons cuidados de enfermagem a esses doentes.


Qual é a vossa opinião sobre o assunto? Qual é que acham que é a melhor maneira de comunicar com pessoas desorientadas?

10 comentários:

  1. Concordo em absoluto contigo e faria exactamente o mesmo.

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  2. É assim... não tenho uma opinião formada em algo que já tenha passado mas realmente confesso que me faz confusão ter que alimentar uma fantasia mas quem sabe se não será o melhor...

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    1. Por vezes, também me custa imenso, mas cheguei à conclusão que é a melhor forma de lidar com este tipo de situações.

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  3. Na minha opinião devemos agir como tu o fizeste pois desta forma ganha-mos a confiança da pessoa e é muito mais fácil comunicar-mos com ela.

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  4. Quando o referencial de uma pessoa muda, só alterando o nosso também por uns minutos podemos comunicar com essas pessoas! Fazemos o mesmo com as crianças quando todos tomamos chá imaginário e somos super heróis e princesas porque haveria de ser diferente com adultos que perdem a noção da realidade?! Acho que o contrário: forço-los a realidade quando eles não a conseguem ver é que é pouco ético e imoral!

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    1. Nunca tinha pensado nessa perspetiva mas,de facto, é verdade! Se não queremos quebrar a fantasia das crianças, porque o haveríamos de fazer com adultos que também vivem, de certa forma, num mundo de fantasia?

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  5. O psicológico das pessoas é extremamente importante e em doentes, ainda mais. Não sou da área de saúde mas se entrar no mundo imaginário com eles ajuda, então que seja.

    Cátia ∫ Meraki

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  6. Subscrevo e agiria exactamente da mesma forma. Acho que realmente adaptarmos à realidade da pessoa, funciona :)

    THE PINK ELEPHANT SHOE

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  7. Nunca passei por uma situação semelhante mas acho que, mesmo que não seja o mais moral/ético faria o mesmo que tu
    beijinhos
    http://direitoporlinhastortas-id.blogspot.com/

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